quinta-feira, 8 de maio de 2008

Sétima semana - A carteira de motorista

Nova casa, novos móveis, nova arrumação e logicamente novas aventuras. A primeira que enfrentamos foi lavar roupa nas máquinas pagas do prédio. Depois de ficar com a roupa toda empacotada durante quase 2 meses, precisávamos dar um ar para elas e resolvemos lavar a grande maioria. Nós não gostaríamos de guardar nada que estivesse mantido contato com o porão. Seria assim, uma literal lavagem de alma. Poderíamos então guardar tudo limpinho, novinho e com nosso toque familiar.

Começamos a separar as roupas entre claras e escuras e os montes começaram a crescer, crescer, até que percebemos que precisaríamos de CAN$2.00 para cada máquina de lavar e CAN$1.75 para cada secagem. Resolvemos contar as nossas moedas para avaliar se haveria dinheiro suficiente em casa. Tínhamos 5 moedas de CAN$1.00 e algumas de 25 cents que não chegava a completar o montante necessário. Precisaríamos trocar alguma nota para podermos completar pelo menos duas máquinas de roupas. O trabalho agora era retirar o máximo de roupas claras e escuras para que pudéssemos realizar apenas uma rodada de cada tipo. A briga foi enorme, pois a Nanade queria que TODAS as roupas dela fossem lavadas. Ela encontrou aranhas na granja (vulgo porão) e disse que nunca mais iria usar qualquer roupa que tivesse passado por ali. Como sou uma pessoa muito solícita, além claro de não querer trocar todo o seu guarda roupa, dei a vez para que ela enfiasse todos os seus pedaços de pano antes que eu pudesse pelo menos lavar minhas cuecas.

Combinamos assim: colocaríamos a roupa para lavar, já que tínhamos os 4 dólares na mão, eu iria no metrô trocar as notas, subiria na rua dos mercados para comprar algo para o almoço, voltaria para colocar as roupas para secar enquanto a Nanade preparava o rango em casa. Assim fomos, tudo como combinado. Porém, na hora de colocar as roupas para secar percebemos que a máquina só aceitava moedas de CAN$1.00 (loonies) e de CAN$0.25 (quarters). Quando trocamos o dinheiro no metrô só recebemos moedas de 2 dólares (toonies). Ai caramba! Lá vou eu de novo subindo 10 minutos de caminhada até a rua do comércio para comprar um cacho de uvas e conseguir as moedas trocadas. Contei certinho e voltei com tudo separado. Ao passar a roupa para a secadora percebemos que estava tudo encharcado. Talvez pelo fato de termos colocado muita roupa, mas resolvemos atolar tudo na secadora e ver o que dava. Claro que o dinheiro contado resolveu cair no chão e uma moedinha de 25 cents ficou no lugar mais difícil de pegar, mas isso foi apenas um detalhe dentro desta correria toda.

Ao voltarmos para buscar as roupas na secadora levamos um susto, pois continuavam molhadas e tivemos que bater tudo novamente. Isso não aconteceu sem antes eu ter que voltar no metrô para trocar mais dinheiro. Segunda batida de roupas e nada! Então resolvemos levá-las assim mesmo para casa. O apartamento virou um cortiço, roupas penduradas em todas as portas e cadeiras (foto em nossa seção à direita). A Sonya nos deu a dica que existem algumas máquinas melhores do que outras, mas que, de fato, ela acredita que colocamos roupas demais. A secagem aconteceu via ferro de passar. Foram 2 dias de passagem de roupa. Na verdade usei esta tarefa como terapia, pois minha prova de carteira de motorista estava chegando.

Neste meio tempo recebi o e-mail de confirmação da entrevista tão esperada, ela será na próxima quarta-feira (dia 30). Assim, dentro do nosso cronograma, na outra semana. Paciência, paciência!

Falando nisso, sexta feira, dia 25, o dia E (o dia D já tinha passado e eu tinha tomado pau). Acordei cedo, sem pressão, aluguei o carro e me dirigi à Oakville. A prova estava marcada para 14:00h e cheguei lá às 12:00h. Fiquei observando como as pessoas saiam do centro de teste, como era a cara dos examinadores, quanto tempo demoravam para voltar, etc. Depois de algum tempo resolvi passear num mall que fica em frente ao Drive Test Centre e entrei no supermercado Sobeys. Dica interessante: achei o ambiente e os preços deste supermercado muito atraentes. Durante meu passeio consegui achar uma coisa que ainda não tinha parado para prestar atenção: Haagen Dazs de morango. Hummmmm! Prometi a mim mesmo que passaria na prova e voltaria para comprar aquele sorvete como sinal de comemoração. Aliás, pausa para uma explicação histórica. Na época que eu abri a empresa com dois amigos (Ricardo e Carlos) nós criamos uma tradição que ditava que toda vez que conseguímos grandes feitos (fechar grandes projetos, finalizar grandes propostas) fumávamos um charuto. Se me perguntarem se fumar charuto é bom, responderei com a maior franqueza do mundo.... é uma bosta! Mas aquela cerimônia era deliciosa, nos sentíamos bem por ter conquistado coisas importantes na vida. Grandes lembranças desse período. Voltando ao presente, acredito que acabo de mudar esta tradição para algo mais saudável (será?!!). Bom, pelo menos eu não fico zonzo no final.

Depois do passeio pelo mall almocei no Tim Hortons e fui para a minha prova. Os instrutores eram das mais variadas etnias. Tinha negros, muçulmanos, chineses e até uma Singh que usava aquela bola vermelha na testa. Sinceramente, aquilo me incomoda. Será que é uma raspadinha? Se alguém raspar ali, será que acha um “você ganhou a carteira G”? Não sei, só sei que eu não teria a manha de raspar. Eu pedi muito para que ela não fosse minha examinadora, pois com aquele ponto vermelho fico com a sensação que ela está me filmando o tempo inteiro. Isso me deixa nervoso. Para minha surpresa a examinadora era bem “canadense”. Chegou no carro, pediu para fazer os comandos básicos e se mostrou bem simpática. Após entrar no carro ela disse que a única coisa que queria era um “safe drive”. Ok! Vamos nessa! Ao contrário da outra examinadora, esta apenas falava os comandos e não prestava qualquer atenção se eu estava olhando blind spot, espelhos, freando na hora certa, etc. Eu achei estranho, mas me tranquilizou. Em momento algum houve qualquer problema e em 15 minutos estávamos de volta ao centro. Ela me deu os parabéns e disse que eu dirigia muito bem. AAAAEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE. Mas espera aí! Ainda indaguei que havia feito a prova da G e que tinha sido muito diferente. Dica importante: a examinadora disse que a prova da G é muito mais pesada mesmo, que eles querem saber se o motorista realmente sabe todas as regras escritas no livro, mas que na G2 eles só querem saber se o motorista tem o controle do carro e paciência no trânsito. Sem problemas! O importante é que estou com a carteira na mão e só para comemorar voltei de Oakville até Toronto sem olhar no blind spot nenhuma vez. Aliás, institucionalizei o “blindspotless” weekend. Além disso, comprei meu merecido Haagen Dazs e o saboreei tranquilamente. Além da delícia do sorvete, este tinha um sabor de missão cumprida. Combinação perfeita.

Final de semana foi tranquilo, ficamos com o carro e compramos algumas outras coisas para a casa. Houve um churrasco na casa do Flávio para inauguração da primavera e nada muito agitado. Estava com uma gripe de matar.

Segunda-feira a festa da carteira já havia terminado, assim como a pilha de roupas para passar... o tempo. Além disso, recebi resposta negativa de uma empresa que estava bem avançada no processo. Isso foi uma grande frustação para mim. Dica importante: eles alegaram que eu era “over qualified” para a vaga. Porém, a verdade é que as empresas já entenderam como funciona a entrada dos imigrantes no mercado de trabalho. Muitos preferem buscar vagas em níveis menores apenas para pegar “Canadian Experience” e logo que conseguem esta variável, aceitam qualquer nova oferta. Assim, as empresas ficam receosas de contratar quem tem perfil para a vaga, mas não tem Canadian Experience. Porém, não contratam quem tem mais experiência do que o necessário, pois sabem que estão as usando apenas como “stepping stones” para algo maior. Ou seja, arrumar o primeiro emprego tem variáveis mais complexas do que eu esperava.

Terça-feira foi um dia muito baixo astral. Com a saída desta empresa da jogada e o sumiço de outra que também estava na quarta etapa de entrevistas, as coisas se reduziram a apenas à empresa cujo tenho entrevista na quarta feira. Pela primeira vez eu estou sem alternativas e isso me deixa preocupado. Cheguei em casa de tarde e só consegui deitar e dormir, pois minha cabeça estava estourando de dor. Tenho que estar preparado para a entrevista, não vou deixar as 3 entrevistas que já passei irem por água abaixo novamente por causa desta "guerra velada".

O resumo da semana é que não posso deixar me abalar. Afinal, consegui o segundo pé necessário para uma vida normal e amanhã terei uma importante entrevista para buscar aquele que me trará de volta à trilha. Descanso e foco é tudo que preciso agora. Grande semana a todos, pessoal.

3 comentários:

.Mariana.Daniel. disse...

Oi Luciano,

Conheci o blog de vcs esta semana. Queria dar os parabéns pelos posts tão bem escritos e pelas informações que vc está registrando. Muito, muito válido para quem ainda não chegou por aí! Esse processo todo de encontrar o primeiro emprego é, sem dúvidas, uma das nossas maiores preocupações.

Abraços,
Mariana

Simone disse...

Oi Luciano,

Espero que tenha sorte na entrevista.
Vc já leu o blog da Laila, ela conta que ela e o marido fizeram um estagio para conseguir a experiencia canadense. O blog dela e lailacomigo.blogspot.com
A area do meu marido tambem e TI, por isso perguntei a sua profissao. Ahh, vc sabe me dizer se eu for com o visto de estudante posso fazer o ESL?

Abs para vc e a Nanade.

Simone

Silney disse...

Parabens pela casa nova!!! ...a Manade parece bem feliz mesmo... rs... vi o video agora..e gostei do lugar!!!...pelo menos acabou com as cabeçadas ne? hahahah