domingo, 30 de março de 2008

Segunda semana

Pessoal as coisas começaram a andar mais rápido por aqui e iremos fazer resumos semanais a partir de agora, pois estamos começando a ficar sem tempo para resolver as coisas. Isso é excelente, afinal é um indicativo que já estamos começando a entrar no ritmo de vida normal.

A semana começou com o início das aulas de inglês da Nanade, como toda criancinha, tive que levá-la pela mão no seu primeiro dia, pois ela não conhecia os coleguinhas. Ela ficou de chororô do lado de fora da sala até o Tio vir chamá-la para entrar. Ela ficou com aquela cara de cachorrinho pidão até eu sumir nas escadas. Já estou preparado para ter filhos.

Deixei a Nanade na aula e fui fazer a tradução do documento do Denatran no Consulado. Dica interessante: levem cópias da carteira de identidade e carteria de motorista quando forem fazer esta atividade. O consulado tem um guichê só para brasileiro e não demorei nem 5 minutos por lá. Paguei os 18 dolares do serviço e me avisaram que a documentação estaria pronta no dia seguinte. Voltei na data determinada e demorei mais 3 minutos para conseguir o documento. Pelo que conversei com os outros brasileiros, tive sorte. Normalmente demoram quase uma semana para entregar o material.

Fui direto para a Metropolitan Library (Yonge North). Dica: façam cartão de biblioteca. O espaço é excelente para estudar, tem internet wireless (e computadores disponíveis) gratuitos, livros a disposição e bastante espaço sem barulho. Fiz meu cartão e usufrui da internet durante todo o dia. Aproveitei o momento de silêncio para estudar para a prova escrita da carteira de motorista.

Depois da biblioteca fui buscar a Nanade na aula e voltamos para casa conversando sobre as dificuldades que encontrou. Já no primeiro dia a Nanade comentou como temos (nós brasileiros) sorte por termos uma língua parecida com o Inglês. A sala de aula contém Paquistaneses, Chineses, Afegãos, Japoneses, Ethiopes e algumas outras nacionalidades da África e Ásia. Cada um tem sua dificuldade específica. O Paquistanês não fala o T, assim as perguntas saem “Whas are you doing?”, ou seja, tem S em todo lugar. Os Afegãos colocam R onde não tem (Wharrrrr arrre yourrrrr doirrrngrrrr?), conversar com eles parece que está no meio de um tiroteio, hummmmmmm, por que será? Os chineses não conseguem falar consoantes (Uá ae you oin?) e os Japoneses não conseguem falar nada, pois usam aqueles dicionários eletrônicos que traduzem tudo que querem, assim não precisam aprender.

Aliás, no dia seguinte, na biblioteca, tive um momento divertido com um desses japoneses aprendendo inglês. Estava sentado numa mesa quando se juntaram o aluno japonês e um canadense (a biblioteca é cheio de pessoas aprendendo a lingua). O Professor retirou da cartola uma lista de palavras muito difícies para o seu aluno repassar a fonética. O diálogo que se seguiu foi mais ou menos assim:
- Liiiiiiiiiiiiibal
- No, No. It’s Label, remember? Open “A”
- Liiiiiiiiiiiiiiiiibal
- No, Tamagoshi. Open “A”, like DAAAY. Laaaabel
- Ok... liiiiiibal. (Nesta altura eu já tinha desistido de ler meu livro da carteira de motorista)
- Let’s try another one
- Niiiiiiiiiver.
- Niver is another thing. This one is Never. Like Heaven (apontando para cima)
- Niiiiiii....
- Ok, Nevermind. Skip this one.
- Liiiiiiiiiither
- It’s Leather. Same sound of never (Caramba, mas ele já tinha “skipado” esta. Como esperar que ele acertasse? Eu tinha que me controlar, fixei o olho no notebook para disfarçar)
- Riiiiiiiither
- It’s rather, for Christ sake (bem baixinho)! You gotta study harder on this one. (Eu percebi que o professor tinha desistido, ele fez um cara de “devo ter jogado pedra na cruz” e rapidamente passou para outra lista)
- Miiiiiiiiiiiter
- That’s it. You are very good. Meter. (eu quase dei a volta olímpica com o Tamagoshi. Ele não percebeu que continua sem saber falar as palavras, mas o professor achou uma que ele conseguisse falar. A alegria do japa era contagiante.)

Heater, niver e outras palavras com os sons que o Japa sabia falar se seguiram e pude constatar o que a Nanade tinha falado no dia anterior. Realmente temos sorte pela nossa fonética ser parecida, sem contar que nossas letras são iguais também. Isso nos dá uma vantagem sobre os outros imigrantes.

A partir do segundo dia de aula a Nanade já começou a pegar mais confiança no seu inglês. Ela foi numa loja e fez compras sozinha, pode parecer pouco, mas para nós foi a quebra de uma grande barreira. Fico muito feliz e orgulhoso, pois sei que os primeiros encontros com a lingua são os mais difícieis e como ela estava sempre do meu lado não precisava se preocupar. Ao encarar umas compras sozinha demonstra que a partir de agora as coisas irão acelerar.

Sexta feira, feriado, resolvemos ir na CN Tower. Dica Interessante: o TTC tem o Daypass que nos sábados, domingos e feriados pode ser compartilhado por duas pessoas. Assim, eu e a Nanade pagamos CAN$9 e pudemos andar de ônibus, metrô e street car quantas vezes nos deu na telha. No início do passeio uma pessoa nos pediu para tirar uma foto para ela e pelo sotaque descobrimos que era uma brasileira que estava fazendo curso de inglês por aqui. Ganhamos uma companhia em nosso passeio. A vista da CN Tower é de tirar o fôlego. É possível ver a cidade inteira e a vista do inverno é muito bonita. O dia estava ensolarado e isso nos ajudou a ter uma visão completa da beleza da cidade. A CN tower tem o Glass Floor onde as pessoas tem muito nervoso em passar por cima. Vamos admitir que a primeira encarada não é fácil, você olha para baixo numa altura de 610m e vê as pessoas e carros muito pequenos lááááááááá embaixo. Tiramos várias fotos e no final já estávamos bem à vontade. Rolou até um sambinha tabajara no Glass Floor como pode ser visto no vídeo aqui da página (http://www.youtube.com/watch?v=FXzIUG6mfdQ). O local é cheio de visitantes e nos deparamos pela primeira vez com uns árabes que usam um penteado que lembra aqueles vendedores de quebra-queixo ou as lavadeiras do Nordeste. Eles colocam uma pano na cabeça que parece um quindim à venda. Cada um na sua, desde que não me ofereçam uma mordida. Lá de cima conseguimos visualizar que havia um local à beira do lago onde as pessoas estavam patinando e passeando. Saímos da CN Tower e fomos direto para este local.

Ao chegarmos à beira do lago (Harbourfront Centre) tivemos uma excelente sensação de tranquilidade. O lugar permite que as pessoas patinem sobre o lago congelado (tudo natural) e há um pier onde conseguimos passear e olhar a natureza. Grande programa para um final de semana. Falaram que durante o verão tem aulas de windsurf e outras atividades interessante para fazer. Já vimos que será um ponto que visitaremos bastante.

O sábado nos reservou uma emoção pessoal. Joguei basquete desde os 6 até os 21 anos de idade e acompanho NBA desde 1989, quando a bandeirantes começou a transmitir os jogos. Comecei a torcer pelo Detroit Pistons só para encher o saco do meu irmão que torcia pelos Lakers. Depois disso acompanho ano a ano as temporadas como grande fã. Após esta contextualização, voltemos ao sábado. Fomos ao Air Canada Centre para ver as atrações que iriam acontecer por lá e vimos que os Pistons iriam jogar na quarta feira. Compramos os ingressos imediatamente. Isso será a realização de um sonho de moleque!

O domingo foi mais um dia maravilhoso rodeado de amigos. Fomos à estação Old Mill onde encontramos mais um casal de amigos (Wellington e Sonya) e após conhecer o apartamento deles (muuuuito show de bola) fomos para um almoço de páscoa em Mississauga na casa do Edward novamente. Tiramos várias fotos (podem ser vistas do lado direito do blog), inclusive da geladeira ao ar livre. Conhecemos mais um pedaço da turma de brasileiros. Essa galera vale ouro!

A segunda feira reservou mais uma entrevista, desta vez em Mississauga e pude contar com a ajuda do Alexandre com uma grande dica. Dica Importante: Site Mississauga.ca serviço Click ‘n Ride (http://www4.mississauga.ca/ClicknRide/). Você coloca a hora que tem que chegar aos lugares, de onde está saindo e recebe um plano de “viagem” contando a hora que deve chegar aos locais, os ônibus que deve pegar, etc. Adinhem? Funciona como um relógio e cheguei na hora para a entrevista sem qualquer problema. Ponto positivo para este serviço. A Nanade foi à aula de inglês, mas por algum motivo bateu com a cara na porta.

Terça feira fiz a prova escrita e “médica” para retirar a carteira de motorista e agora tenho uma carteira G1 que me permite dirigir caso tenha alguma pessoa com carteira G ao meu lado. Logo, não serve para nada. Tenho que fazer o teste de rua para tirar carteira G. Ainda na terça fiz uma outra entrevista. As coisas estão realmente esquentando. Em breve espero anunciar boas novas.

Assim, nossa segunda semana chegou ao fim. Estamos gostando cada dia mais da cidade e acreditamos que a decisão que tomamos foi mais do que acertada. Ficamos agora na torcida para os outros amigos que estão na angustiante fila para receber os pedidos de exames. Força galera!!!!!

sábado, 22 de março de 2008

Sexto dia (Terça feira)

Este dia foi agitado e com algumas descobertas interessantes. De manhã fomos ao Centro de Apoio aos Imigrantes para realização do teste de inglês. Ao chegarmos ao centro pedimos para realizar o teste para o LINC, pois esse foi o curso que haviam nos indicado. A secretária do curso nos questionou porque havíamos escolhido o LINC e não o ESL. Bem, nós não tinhamos a menor idéia da diferença entre eles, então pedimos que nos explicassem. Segue um resumo para aqueles que irão procurar tais cursos:

LINC (Language Instruction for Newcomers):
· Contém os níveis de 1 a 4. Ou seja, é apenas para iniciantes
· É gratuito
· Há apenas um local na cidade onde é possível realizar este teste, em Downtown

ESL (English as a Second Language)
· Contém os níveis de 1 a 8. O oitavo nível é preparatório para o TOEFL
· É pago
· O teste pode ser realizado na própria escola.

Ficamos meio em dúvida, pois haviam dito que as aulas eram gratuitas para imigrantes, então resolvemos perguntar o valor do curso. Resposta: CAN$20,00 por trimestre/nível. Caramba, achávamos que eles iriam cobrar uma fortuna, já estávamos achando que este papo de curso de graça era balela do governo. Mas, “CAN$20,00/trimestre = FREE”.

Decidimos então fazer o ESL mesmo. A prova segue os mesmos moldes das provas no Brasil: Read, Write, Listening and Speaking. No final acabei resolvendo não fazer as aulas, pois já havia alcançado o último nível e pretendo usar meu tempo para procurar emprego. A Nanade vai começar amanhã. Ela pegou também um curso específico de pronúncia. O curso também oferece conversação aos sábados. A aula normal vai de 9:00 às 14:30 todos os dias. O curso de pronuncia é segunda e quarta e vai de 15:15 às 16:45h. A escola fica a 20 minutos de casa (andando).

Tudo resolvido, voltamos para casa, pois eu tinha a minha primeira entrevista. Chegamos correndo, passamos roupa, pegamos o mapa e fomos embora. Um ônibus, dois metrôs e um taxi depois, estávamos no local especificado. Resolvemos ir juntos, afinal iríamos para um local diferente do que estávamos acostumados e seria uma boa oportunidade para novas descobertas.

Fiz a entrevista que gerou frutos, mas as coisas aqui são mais lentas do que no Brasil. O importante é ter paciência. Aqueles que acham que esperar o pedido de exame médico do processo federal é angustiante, deve ficar esperto e guardar um pouco de paciência para trazer ao Canadá. A sensação de estar desempregado é muito ruim e sua ansiedade aumenta consideravelmente. Um dia nesta situação parece uma semana. Assim, devemos ter os pés no chão e saber que teremos que passar por isso. Nós viemos preparados, portanto estamos segurando ao máximo a ansiedade. Nossa estratégia é achar que estamos de férias para que tudo vá se encaixando. Espero não ter férias prolongadas. Achei que nunca falaria isso.

Nota interessante: precisávamos pegar um taxi para voltar para casa e fomos informados que naquela região não seria possível (ou seria muito difícil) arrumar um taxi na rua (flag a taxicab). Assim, nos apresentaram um serviço muito eficiente. Basta pegar o celular é discar “#TAXI” (“pound taxi”) e sua ligação cai num sistema que te direciona para uma Cia de Taxi específica ou para a companhia que estiver disponível no momento, dependendo de sua escolha. Fomos atendidos rapidamente. Ponto positivo para este serviço.

Na volta paramos no Eaton Centre para almoçar e durante nossas caminhadas percebemos como tem gente doida pelo meio da rua. Quando dizemos doido, é maluco mesmo, com problemas e sequelas. Estávamos subindo uma escada e um desses doidos virou para nós e desceu uns dois degraus para ficar nos encarando. Ele segurou na altura da cintura como se estivesse segurando uma arma. Esperamos calmamente a escada acabar para ver sua reação, quando ele saiu da escada fez um movimento como se fosse dar um soco na pessoa que estava entrando, mas desviou bem no momento de acertar. A pessoa ficou indignada, mas nada fez. O doido continuou sua viagem como se nada tivesse ocorrido. Falamos dessa nossa percepção para outro amigo e ele disse que essas pessoas não são doidas. Elas têm mania de falar no celular com dispositivos bluetooth. Meu amigo, só se inventaram um novo receptor que é instalado no cérebro deles, porque todos os que vimos só usavam a tecnologia Notooth ou Toothless.

Uma outra nota interessante para as mulheres. A Nanade estava bem preocupada em como ficaria os seus cabelos, sabe como é, né? Aquela briga eterna que toda mulher encara. Ela teve uma surpresa, pois achávamos que o clima era muito úmido, o que (teoria feminina, estou apenas escrevendo a respeito) seria ruim para cabelos cacheados. Ela está conseguindo viver sem fazer escova, pois devido ao tempo seco, os cabelos “se comportam”. Porém, este mesmo clima trouxe outra surpresa. A pele das nossas mãos e lábio ficam extremamente secas e quebradiças. As mãos da Nanade estavam descamando e isto estava a incomodando muito. Fomos até uma farmácia e a farmacêutica nos indicou um creme hidratante mais “intenso”. Os cremes que a Nanade trouxe do Brasil não estavam funcionando. Este que compramos está dando conta do recado.

Voltamos para casa e a noite foi difícil para a Nanade devido à sua ansiedade com o início do curso. Temos certeza que tudo correrá bem, mas primeiro dia de aula é complicado mesmo.

Sexto Dia (Segunda Feira)

A Segunda também foi um dia parado. Durante a manhã o pessoal da Cia de Gás apareceu e resolveu o nosso grande problema. Finalmente tínhamos uma casa quentinha e também a possíbilidade de cozinhar o nosso primeiro almoço caseiro. O cardápio foi arroz, feijão, carne moída com grão de bico e Lemonade. Tenho certeza que todos achavam que seria algo de outro mundo, certo? Mas depois de ficar quase uma semana comendo sanduíche, um arroz com feijão é algo de outro mundo.

Tínhamos planejado ir ao consulado para fazer a tradução da “Consulta da Carteira Nacional de Habilitação” que é retirada no site do Denatran. Esta consulta serve para podermos tirar diretamente a carteira G no Canadá. Depois falarei melhor sobre isso. Nota importante: O consulado só recebe este tipo de requisição até às 13:00h. Como verificamos isso às 12:30h, então resolvemos que segunda seria mais um dia para ficarmos descansando de nossas aventuras.

Ligamos ao centro de apoio aos imigrantes para agendar a entrevista para avaliação do nível de inglês que estamos para iniciarmos o curso. Fomos avisados que não é necessário agendar a entrevista, bastaria passar no local para realizar o teste.

Assistimos a mais um filme, desta vez confortáveis com a volta do calor e dormimos bem cedo.

Quinto dia (Domingo)

Chegamos em casa 23:45 de sábado e o domingo começou gelado. Na porta de nossa casa havia um bilhete da família Upstairs Singh dizendo que estávamos sem gás, por isso a noite seria fria. Parece que o frio chegou para eles também. A noite foi bem difícil, acreditamos que a temperatura no quarto devia estar uns 5 graus positivos. Dormimos com nossos thermal wears (vulgo minhocão), todos os cobertores da casa e ainda tivemos dificuldade de dormir. A Dalila, que normalmente gosta de ficar perambulando durante a noite, não saiu debaixo das cobertas.

Às 9:00h da manhã a companhia de gás bateu em nossa porta para mexer em algo. Conversei com o técnico e ele disse que o sistema não tinha passado por uma limpeza e nem pela manutenção anual. BTW, havia dois anos que não faziam isso. A dona da casa estava conosco muito sem graça e disse que faria isso o mais rápido possível. Aliás, esse técnico já limpou o sistema e avisou que outra pessoa iria passar ainda no domingo para realizar a manutenção necessária e que assim que isso ocorresse, tudo voltaria ao normal.

Havíamos planejado a realização do nosso primeiro almoço caseiro. Porém, diante deste imprevisto resolvemos sair para almoçar (Subway. Agora já sabemos o script). O resto da tarde resolvemos arrumar a casa e organizar nossa agenda para a semana que prometia ser bem atribulada.

Detalhe importante: o técnico da Cia de Gás responsável pela manutenção deixou a gente no vácuo e passamos mais uma noite no frio. Assim, não precisaremos mais visitar o hotel de gelo em Montreal, pois já vimos que não tem graça nenhuma.

Durante à noite, assistimos um filme num frio sinistro sem lareeeira, sem lareeeira, bicho. Eu prefiro ter um filho viado que um filho que trabalha na Cia de Gás Canadense. AHH, Eu fico Puto! (Quem não entendeu a piada, por favor assista este vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=V7eR6wtjcxA.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Quarto dia - Sábado (Fun Day)

Fomos convidados pelo Alexandre Azevedo para acompanhar sua família e amigos a uma estação de esqui perto de Toronto. Segundo ele, o lugar é muito agradável para crianças e a previsão da meteorologia para o sábado prometia um grande dia para se divertir. Nota interessante: a meteorologia aqui é bem precisa, se diz que vai chover, chove, se diz que vai chover pouco, chove pouco. Por que será que ficamos assustados com isso?

Porém, a nossa semana foi muito corrida, como puderam perceber nos posts anteriores, e acordamos no sábado com aquela vontade de passar o dia todo mofando. O problema é que estava frio demais dentro de casa e não sabíamos porque. Achamos que talvez tivesse havido alguma regulagem na calefação que não sabíamos onde era, provavelmente isto deve estar interligado com a parte de cima da casa. Questionamos o Singh e ele disse que lá em cima estava tudo tranquilo. Tentamos falar com a dona da casa e não conseguimos, então deixamos para depois.

Nossa sorte é que tivemos coragem de colocar a cara para fora de casa para ver como estava o tempo e não pudemos resistir ao sol maravilhoso que deixava a visão da neve ainda mais bonita. O dia estava radiante e nos recusamos a ficar em casa. Planejamos que se ocorresse algum imprevisto com o passeio de nossos amigos, então iriámos à CN Tower e a Metropolitan Library. Não tardou e nossos amigos nos ligaram confirmando o passeio. Excelente!

Fizemos uma cabaninha para a Dalila, pois realmente estava frio dentro de casa e fomos embora. Metrô na cabeça e 30 minutos depois havíamos passado por todas as estações da linha verde. Agora podemos dizer que somos praticamente nativos agora. Aprendemos mais uma novidade: algumas estações de metrô tem uma área específica para que as pessoas aguardem as outras (Passengers Pick-up). Neste local encontramos o Alexandre que nos deu a notícia que o passeio da estação de esqui tinha furado, mas teríamos outras atividades a fazer.

Fomos a Mississauga e conhecemos alguns bons locais para se morar. A cidadezinha ao lado de Toronto é um paraíso para aqueles que têm filhos, pois oferece as facilidades da “cidade grande” com a tranquilidade do “interior”. Durante o passeio paramos para descer de trenó com o Pedrinho, filho do Alexandre. Esse figurinha é ligado em 330V e só descansou quando finalmente o Alexandre estacionou no local da atividade. A “viagem” até o local (cerca de 30 minutos) foi recheada de excelentes dicas para nossa adaptação.

Para vocês terem uma idéia da beleza do lugar, a foto ilustrada na apresentação do blog foi tirada pela Luciana, esposa do Alexandre. A visão desse mirante é de tirar o fôlego, o Lago Ontário ao fundo realmente serve de inspiração. Para quem tem cachorros, o lugar oferece um espaço “leash free” para a felicidade dos animais. A temperatura estava por volta de 1oC e as pessoas também estavam muito felizes. Tinha gente até com a capota do carro conversível abaixada, parecia que estava maior calorão.

Durante este passeio pedimos permissão para utilizar o trenó do Pedrinho e nos aventuramos em nossa primeira experiência na neve. Enquanto estávamos nos preparando para descer, a nossa “amiga” Luciana deu um “empurrãozinho” para nos “ajudar”. O resultado vocês poderão ver no vídeo que colocaremos aqui depois ou então podem entrar direto no link do Youtube (http://www.youtube.com/watch?v=y69SVmJ4RHw). Cuidado! As cenas são fortes, abaixem o volume de seus computadores. Depois não digam que não avisei! Outra coisa, percebam as duas risadas maquiavélicas ao fundo da gravação. Estamos começando a achar que isso tudo foi armado.

Depois que conseguimos subir, recebemos uma explicação sobre o ocorrido. A Luciana disse que era um passeio com emoção. Bem, nós moramos em Natal, onde esta opção de passeio nasceu (com ou sem emoção) e pelo que nos lembramos esta escolha deve ser NOSSA! J

Depois da diversão fomos conhecer o Square One, um grande Mall no centro de Mississauga. A esta altura estávamos famintos e nos dirigimos diretamente para o Tim Hortons. Nota: Caberia mais entradas para o nossa dicionário para entender o que a Singh falou, mas não tive capacidade nem de captar os fonemas para tentar inserir este script. Este desafio ficará para outra oportunidade. BTW, a refeição é muito gostosa.

A partir daí partimos para encontrar os minhocões (vulgo Thermal Wear). No caminho para o Wal Mart passamos por uma loja de animais que vende de tudo, cobra, escorpião, aranhas e até grilos para dar de comida para esses outros “pets”. Eu quis comprar uma aranha para a Nanade, mas ela não aceitou. Sugeri então que poderíamos dar a Dalila de comida para uma daquelas cobras, mas a idéia também não passou pelo crivo materno. Eu tentei!

Nota importante: os shoppings fecham às 18:00h no sábado, independente de ter gente dentro ou não, as pessoas são praticamente expulsas das lojas quando chega perto desse horário. Isso também vale para a praça de alimentação. Isto é uma coisa que precisaremos nos acostumar.

Saímos do Square One e fomos à casa de mais uma família brasileira em terras geladas. Tivemos a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas como o Edward, Jaqueline e filhos, Flávio e Marcia, além do Mencio Vidal que chegou depois. Repetindo o que já falamos em post anterior, temos sorte de atrair apenas pessoas de boa índole e com as mesmas características que temos. O primeiro encontro parecia mais um reencontro, como se já nos conhecêssemos há tempos. Além de tudo isso, ainda experimentamos o mingau de banana da Jack sob supervisão do Edward. Nota: 10.

Muitas dicas, muitas idéias e a mensagem principal da noite foi que devemos focar na obtenção da carteira de motorista. Este processo é o único terceirizado, mas contraditoriamente não funciona tão bem quanto os outros. Assim, já me ajudou a definir uma prioridade neste momento.

Volta para casa, mais uma certeza que estamos no lugar certo. O Alexandre nos deixou na estação de metrô do outro lado da cidade por volta das 23:00h e em momento algum durante a viagem houve qualquer sentimento de medo, ameaça ou insegurança. Chegamos em casa às 23:45h à procura de nossa cama quentinha, mas infelizmente não seria desta vez...

terça-feira, 18 de março de 2008

Terceiro Dia

Novo dia, nova oportunidade para descobertas. Lendo os textos anteriores percebi que esta palavra foi utilizada à exaustão, mas não há como achar outra. Estamos num momento onde a melhor coisa que temos a fazer é realizar descobertas. Assim, acordamos para mais uma aventura.

Depois das dicas da Iolanda, que fez questão de formalizá-las através de e-mail, resolvemos ir atrás de um supermercado para podermos começar a montar nossa despensa. Frio de matar, não precisamos mais comentar isso, e pé na estrada. Percebemos que a vizinhança contém duas ruas principais (Danforth and Pape) que mantêm praticamente apenas comércio. Durante nossa caminhada achamos o Food Basics, um supermercado bem razoável que serve para aquelas comprinhas básicas, semanais, etc. Nota interessante: Durante o pagamento da conta, a caixa nos perguntou se gostaríamos de sacolas plásticas para carregar as compras. Na nossa cabeça veio a resposta: claro, qual a dúvida? Então ela perguntou: “quantas”? Ué, que tipo de pergunta é essa? Sei lá, umas 5. Aí então entendemos o problema. As sacolas são cobradas (0.25 centavos). Pelo que levantamos, isso serve para desencorajar sua utilização devido à questões ecológicas (bla bla bla). Assim, compramos umas sacolas mais resistentes (CAN$1.00) para não ter que pagar pelas usuais. Todo supermercado oferece essas outras sacolas. A partir de agora, sempre que saimos às compras não podemos esquecê-las, caso contrário será mais custo desnecessário. Uma curiosidade é que as velhinhas usam um carrinho/bengala/cadeira/andador que é um espetáculo. Quando a velha cansa, senta, quando descansa, empurra, quando faz compra, não carrega peso, só esperamos que não enfrentem nenhuma ladeira pela frente. Ainda não vimos se são providos de freios.

Voltamos para casa com alguns mantimentos e depois resolvemos visitar o Dufferin Mall, também por indicação. Foi então que descobrimos o conceito do “Transfer”. Se você está indo na direção Norte/Sul, precisa ir para leste/oeste e o ônibus em questão não fizer esta rota, então você pode saltar e pegar a outra condução sem custo. Isso vale também para ônibus/metrô. Caramba, por que não disseram isso antes? Os 15 minutos de caminhada no frio até o metrô agora se tornaram um minuto até o ponto de ônibus, dois minutos dentro do ônibus quentinho e pronto! Estamos no metrô, também quentinho.

Chegamos à estação Dufferin e nos encaminhamos ao Mall. Wal Mart, No Frills , Payless Shoes e outras marcas interessantes compõem este aglomerado de lojas. A Nanade ficou louca pela Payless Shoes. “Mini flashback - ainda não tive a oportunidade de contar que a “pessoa” que a Nanade mais ficou deprimida ao se despedir foi o Cartão da Renner. Foram 2 dias de depressão profunda e o fim momentâneo do brilho em seus olhos”. Depois de passar pela Payless Shoes eu pude ver novamente aqueles lindos olhos brilhantes que já me conquistaram há vários anos. Estou recebendo de volta minha mulherzinha. God save my wallet! Outra coisa que encheu seus olhos foi a Pipoca com Double Caramel. Ainda estamos em negociação para ambas as aquisições.

Nota interessante: compramos o cartão de ligação internacional “Amigo Latino” que permite com CAN$5.00 falar por 3 horas com o Brasil. As pessoas já comentaram que o melhor cartão é o SIFA, mas ainda não o encontramos. Apanhamos para falar do orelhão e pagamos a sua taxa de uso. Depois percebemos que é mais fácil utilizar o cartão através do celular. As instruções vêm no cartão e você paga apenas uma ligação local para Toronto.

Depois de ligarmos para casa, encontramos um Service Canada (http://www.servicecanada.gc.ca/en/common/notices.shtml). Neste local é que fazemos nosso Social Insurance Nuber (SIN), pegamos informação sobre aulas de inglês, etc. Resumindo, este é o ponto de apoio para o Imigrante. Tentamos fazer o nosso SIN neste local, mas fomos mal atendidos. Nós haviamos levado apenas o nosso passaporte, mas precisávamos do “Confirmation of Permanent Resident”. A senhora que nos atendeu foi muito rude, não preisava do show particular. Como nossa cabeça indica que estamos de férias, então não nos abalamos e pedimos mais informação para uma Mohamehd, muito educada por sinal, que nos mostrou que havia outro Service Canada bem perto de onde estamos hospedados. Assim, resolvemos que faríamos o nosso SIN ao voltarmos para casa. Tempo livre, hora de diversão (vulgo descobertas).

Entramos no No Frills para comprar arroz, feijão, temperos, água, etc. Vocês devem estar perguntando o por quê de estarmos comprando água. Afinal de contas, basta abrir a torneira e encher o copo, certo? Errado! Nós ainda não tivemos coragem para fazer isso, a água sai esbranquiçada, com cheiro, mas ainda não sabemos o gosto. Até a Dalilinha demorou para experimentar a “nova” bebida. Nota Importante: O No Frills é muito bom. A variedade é muito grande e o preço é bem atraente. Fica até difícil escolher os produtos, pois tem Beans flavor Bacon, Beans flavor Chilli, Beans flavor Curry, Beans flavor whatever (algo escrito em grego, árabe, etc). O Arroz é a mesma coisa. No dia que acharmos Rice flavor Piqui saberemos que o mundo realmente está globalizado. Até a água que compramos é assim. Já achamos a água sabor ferrugem, água sabor barro e água sabor magnésio. Toda vez que vamos ao supermercado tentamos achar o anúncio de Water flavor Water, mas ainda não conseguimos. Alguém poderia nos ajudar com este assunto?

Depois de muitas andanças resolvemos voltar com tempo para irmos ao Service Canadá próximo à nossa casa. Fomos super bem recebidos por uma grega e em menos de 20 minutos estávamos com nosso SIN em mãos. Agora oficilamente podemos trabalhar neste país. O Service Canadá merece um destaque: conseguimos nosso SIN, além de informações sobre o PR Card, aulas de inglês e empregos. As pessoas, em sua maioria, estão realmente querendo ajudar e nos fazem sentir bem a vontade. Parabéns pela iniciativa.

Última nota importante do dia pode salvar a vida de muitas pessoas. Eu tenho um tênis que seu apelido é Cheetos (Ricardo, he is back!). Vocês imaginam o porquê, certo? O problema é que ao andar na neve o seu pé molha e na maioria das casas é necessário tirar os sapatos antes de entrar. Já viram que isso não vai dar certo, né? Eu precisei colocar o Cheetos em modo hibernação até o verão chegar, pois ele se comporta muito bem nesta época, aliás há tempos ele tinha se livrado deste péssimo hábito, mas passando o dia com os pés molhados não tem jeito. Aqueles que por acaso têm sapatos que não sabem conviver em sociedade (este é o caso do Cheetos) fiquem ligados, pois eles podem te trair ao chegarem no Canadá.

O brilho nos olhos da Nanade foram nosso maior presente de hoje, nossa alegria está de volta e a força que as pessoas andam passando pelos comentários no blog estão realmente ajudando nossa caminhada. Muito obrigado pessoal.

Cenas do próximo capítulo: Passeio em Mississauga e descoberta de novos amigos.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Segundo Dia

Nada como um dia depois do outro com uma noite no meio. A conversa da noite anterior com a dona da casa e depois nossa conversa familiar fez com que nosso ânimo se revigorasse. Acordamos com novo espírito e já de manhã nos arrumamos para voltar ao centro da cidade. Desta vez o objetivo era comprar roupas de frio adequadas e um notebook.

Antes disso, durante os carinhos matinais sagrados em nossa pequena, descobrimos uma curiosidade. Os pelos da Dalila não estão mais caindo. No Brasil, a cada semana conseguíamos construir 3 gatos com os pelos coletados durante as faxinas. A natureza é sábia e espero que este fenômeno acometa a minha pessoa também.

Caminho de sempre, 15 minutos andando, frio de matar, descobrimos porque as pessoas andam tão sérias por aqui: colocar 0,5cm de dente para fora é certeza de dor intensa. Deve ser por isso que dentista é tão bem pago nesta terra. Outra decoberta fantástica, o cachecol pode servir de máscara e o calor da sua respiração não deixa o nariz congelar. Isso é que é tecnologia!


Chegamos ao centro, descemos direto no Eaton Centre. Pesquisamos roupas, luvas e uma malandragem para esquentar a orelha que até agora não sabemos o nome. Além de proteger a orelha, este protetor não desarruma os cabelos. Ainda descobriremos....

Hora do almoço, queríamos algo que não fosse sanduíche. As alternativas eram péssimas e nos restou um chinês e um Grego (Jimmy The Greek). Comida Chinesa já conhecíamos no Brasil, então resolvemos nos aventurar no Mediterrâneo. Escolhemos um churrasquinho de frango, arroz, batata e salada. Hummmmm, lembrei da minha infância, quase chorei. O arroz tinha gosto de massinha de modelar e a alface era um durex. O frango não tinha sal e a única coisa que sobrou foi a batata, que não temos do que reclamar.

Há esta altura começamos a perceber que o número de imigrantes é muito grande, já não nos sentimos mais peixes fora d’água. É impressionante! Agora sabemos que é só chegar nos lugares e, dependendo da fisionomia, começar a frase com Mr. Mohamehd, Sing ou Wu (Wi, We ou qualquer barulho vocal) que será certeza acertarmos os nomes.

Final de estação é uma beleza, compramos casacos bons por 30, 40 e 50 dólares. Nossos dias de frio estavam terminando (vocês ainda ouvirão sobre isso). Depois disso fomos ao Future Shop na Bloor, escolhemos nosso Notebook Branco, não preciso dizer quem escolheu, e quando nos preparávamos para ir embora não pude deixar de fazer a pergunta ao Mohamehd: “Estamos indo para casa de metrô, será que há algum problema em levar esta caixa conosco? Não seria melhor colocarmos o Notebook dentro da mochila?”. Resposta: “Don’t Vorry! You are safe Verever you go”

Caminho de casa foi tranquilo. A noite tivemos um jantar preparado pela pessoa que nos indicou o local onde nos hospedamos. Uma senhora Francesa (Danielle) muito simpática e atenciosa fez questão de trazer uma amiga brasileira para nos receber. A Iolanda fez muito bem as honras da casa. Ela nos deu diversas dicas sobre o “minhocão” (descorbirmos o termo “Thermal Wear” depois), panos para tirar estática da roupa (a Nanade agradece enormemente, pois vive numa cadeira elétrica), onde comprar casacos baratos e o mais importante, onde achar comida boa. Para comer bem, tem que ser em casa mesmo. Passou dicas de como comprar feijão em lata e temperar da mesma forma que fazemos no Brasil, arroz sem flavor (explicarei isso melhor no terceiro dia), torradeira para comer uns waffles e torradas, etc. Resumindo, a nossa casa somos nós que fazemos. O material está disponível, basta sabermos procurar. Dica: ouvimos que aqui não teria feijão, mas isso não é verdade. Existe uma enorme variedade que pode ser encontrada em qualquer lugar.

Acabamos não escapando da comida chinesa do dia. Apesar disso, o jantar foi super interessante, conhecemos outros Brasileiros e um espanhol que não lembro o nome, pois só o chamávamos de Manoelito. Trocamos experiências e a realidade é a mesma para todos. O começo é uma barreira, mas o passar do tempo demonstra que fizemos a escolha correta. Todos estão muito bem de vida e realizados.

Esta última parte foi o desfecho ideal para termos certeza que a primeira impressão ruim foi apenas um susto. O próprio centro da cidade já tinha uma cor diferente para nós. Por exemplo, ao passarmos ao lado do City Hall, chegamos à conclusão que devem jogar água sanitária na neve sobre o gramado do lugar, pois é impecavelmente branca. Uma visão linda!

Com esta lembrança, finalizamos o nosso segundo dia. O pulmão cheio de ar para continuar nossa caminhada.

domingo, 16 de março de 2008

Primeiro Dia

O primeiro desafio era chegar à casa que havíamos alugado. Tínhamos apenas o telefone e o endereço da pessoa. Pegamos um taxi grande e fomos embora, tentamos ligar a primeira vez para a casa e ninguém atendeu. Tentamos para o celular e ele estava fora de área. Bateu um tensão, mas sabíamos que daria certo. Utilizamos o celular do taxista. Pelo que nos falaram, isso é comum por aqui.
O horário era muito ruim pois as pessoas estavam indo para o trabalho. Assim chegamos ao Canadá da mesma forma que saímos do Brasil, num engarrafamento. Conversei com o motorista e ele disse que o engarrafamento ali estava bem ruim, mas não é daqueles da 23 de maio, o carro anda o tempo inteiro e não pára muito. Ainda não sei se esta é a realidade, mas foi o que o motorista de taxi disse.

Durante o caminho tentamos ligar mais algumas vezes e não conseguíamos contato. Isso foi nos deixando desesperados, pois o tempo estava ruim (-5oC) e nossas roupas não eram apropriadas. Resultado, tentamos ligar umas 5 vezes sem sucesso e sempre deixamos recados na secretária da casa da pessoa. O celular estava com problema, mas só saberíamos mais tarde. Ao chegar na porta da casa, batemos e ligamos uma ultima vez, pois já não tinhamos o que fazer. O taxista disse que continuaria ligando, mas que não podia ficar esperando. Bela recepção, ficaríamos parados do lado de fora, num frio sinistro e sem a menor noção do que fazer, pois tinhamos um monte, literalmente falando, de malas, a gatinha, sem celular, sem contato..... quando isso tudo estava tomando a nossa cabeça, a mulher liga de volta para o celular do motorista. Ela estava na rua de trás e o celular havia dado problema. Em 5 minutos ela chegou ao local e nos apresentou nossa moradia temporária.

Bom, esse foi o primeiro sinal que somos imigrantes no começo de vida. O basement da casa nos assustou muito. Por mais otimistas que estivéssemos, a visão nos deu um golpe duro. Metemos todas as nossas malas para dentro de “casa”, avaliamos se o local era apropriado para a Dalila, arrumamos seu banheirinho e comida e resolvemos pegar o metrô para downtown. Quem sabe assim, nos sentiríamos no primeiro mundo. Segundo grande desafio, andar pelas ruas com temperatura negativa. A Nanade estava com casacos comprados em Campos do Jordão, coitada! Aqueles casacos só servem para fazer volume na mala, esquentar que é bom... O metrô fica a 15 minutos de caminhada de onde estamos e rapidamente (mesmo!) chegamos à estação. O metrô é mais feio e sujo que o de São Paulo e Rio de Janeiro, mas a cobertura das linhas é muito boa. Você consegue ir para qualquer parte de Toronto utilizando o sistema de transporte (metrô, ônibus, trem). A primeira coisa que fizemos foi nos dirigir para a Union Station, o centrão de Toronto.

Quando chegamos ao centro, descemos num local onde estão sendo realizadas diversas obras. Assim, o lugar está feio, com barulho intenso e um pessoal mal encarado. A primeira impressão também não foi boa, nestes momentos sempre vem à cabeça aquela velha sentença: o que diabos eu vim fazer aqui??!! Não achávamos o Path, nos sentíamos fora de nossa realidade, achando que todos sabiam que éramos imigrantes de primeira viagem. Após tantos sustos, resolvemos comprar um mapa para nos orientar. Neste momento as coisas começaram a mudar. Achamos o path, aliás vale uma ressalva positiva, pois o lugar é muito interessante, e logo uma canadense muito simpática viu que estávamos perdidos e nos guiou até o banco, onde abrimos nossa conta. Fomos muito bem recebidos e conseguimos nos “livrar” de todos os nossos Travellers Check, não antes de assinar mais de 500 folhas, haja braço!

Há esta altura estávamos famintos e fomos guiados ao Eaton Centre. Descorbimos nosso grande desafio até o momento... comer bem! Impressionante como as pessoas aqui comem alimentos gordurosos, sem gosto e apimentados. Tem gente que almoça um “copo” de batata frita no NY Fries. Aquilo pode até ser bom, mas almoçar isso... Fomos ao velho e conhecido Subway. DICA: pedir comida é uma das coisas mais difíceis que podem enfrentar. Vou fazer um pequeno dicionário para auxiliar os novos imigrantes (como nós):

· “Chiquenobife”: Usualmente utilizada em aviões é uma pergunta realizada pelos comissários cujo significado é “Chicken or Beef”.
· “He togo”: Isso não significa que um Koreano ou indiano esteja te mandando embora. Eles apenas querem saber se você vai comer “Here or To go” (order)
· “SuperSalad”: Ao ouvir esta “oferta” como entrada no restaurante, não aceitem achando que é uma salada gigante. A pergunta do garçon significa uma escolha entre “Soup or Salad”.
· “Wanitosti”: É uma simples pergunta no Subway se você quer que o sanduiche seja “Toasted”

O segredo é conhecer o script de cada loja, pois acredito que é impossível entender o que eles falam, já vi até Canadense pedindo para repetirem as perguntas.

Após o almoço fomos comprar celulares para conseguir nossa comunicação de volta e pegamos o metrô para casa.
A primeira noite não foi o que podemos chamar de “uma noite no paraíso”. Toda a carga emocional das ocorrências do dia recaíram sobre nossos ombros e realizamos que estamos no início de um caminho que não é fácil. Por esta razão teremos muito orgulho ao conquistarmos os nossos objetivos.

sábado, 15 de março de 2008

Landing. Primeiro grande desafio.

Descemos do avião e nos encaminhamos para o Departamento de Imigração onde todos estavam passando, inclusive os Canadenses. Apresentamos os passaportes e a CPR e para a nossa supresa demoramos menos de 5 minutos para passar por esta barreira. Porém, ainda havia mais por vir.

Entramos numa outra portinha onde a fila já era bem maior, mas com muitos atendentes. Assim, rapidamente fomos chamados e apresentamos novamente nossos documentos. Desta vez, a senhora que nos atendeu fez perguntas mais específicas sobre local de moradia, quantidade de dinheiro, documentação da Dalila, etc. Neste local é onde realmente damos entrada no país. Nós não tinhamos o ZIP Code de onde ficaríamos e por esta razão recebemos um formulário para confirmação do Endereço que o PR Card deve ser enviado. Mais uma vez o processo foi bem rápido. Nota especial para uma família que estava no guichê ao lado. Eles não falavam uma palavra em inglês e o oficial de imigração estava dizendo que eles não teriam condições de trabalhar no país, logo estava negando a sua entrada. Havia uma intérprete com eles.

Fomos liberados para buscar as nossas bagagens e a Dalila. Até então não havíamos tirado fotos, mostrado os dolares nem a lista de pertences. Achamos que isso não ocorreria, mas ainda tinha uma barreira a passar. Pegamos nossas coisas e fomos em direção da saída. Passamos pelo guarda final e ele nos indicou que deveríamos entrar numa última porta. Ali fizemos todo o restante do processo que faltava: pagamos uma taxa pela entrada da Dalila (CAN$ 32,00), o oficial contou os dolares, viu a lista de pertences, nos deu uma nota dizendo que quando trouxéssemos nossos pertences não precisaríamos pagar imposto por eles e nos liberaram. Saímos no saguão e nos sentimos aliviados por termos passado por esta fase.

Notas finais:
· Não precisamos tirar fotos, pois a foto que está no CPR será usada para o PR Card.
· O processo inteiro demorou aproximadamente duas horas. O avião tocou ao chão às 6:20 (hora local) e estávamos no saguão às 8:10h. Porém, este tempo não é gasto em filas e sim no atendimento.

Nota especial para o tratemento que recebemos, todas as pessoas deste processo inteiro foram muito simpáticas e sempre faziam questão de nos dar as boas vindas. Falavam que o país estava feliz em nos receber. Isso é bem diferente do tratamento que recebemos ao chegar aos USA, onde eles querem um motivo apenas para te mandar de volta.

CHEGAMOS! Como disse um amigo. Agora é que começa a aventura!

Dia da Viagem

Este dia foi tenso. Além de toda a organização para não esquecermos qualquer papel da imigração, ainda tínhamos coisas pessoais para resolver. Perdi meu tempo com a NET (espero que eles quebrem, pois é a empresa mais incompetentes que já tive a oportunidade de interagir) e depois de duas semanas tentando cancelar uma assinatura, tive que ir deixar os decoders na “casa deles”. Para a parte feminina unhas, cabelos e depilações, coisas que não temos a menor idéia de como funciona no Canadá. Assim, é melhor garantir o mínimo.

Nosso vôo estava marcado para 20:40h e, por conhecer São Paulo, resolvemos sair de casa às 15:30. Aquele dia a cidade havia batido o recorde de engarrafamento de todos os tempos na parte da manhã (194 Km). Pegamos a Dalila e fomos de carona em dois carros com grandes amigos (Sabrina “Carraretta” e Sergio “Coxinha”). Afinal, cada um tinha duas malas grandes, duas pequenas e mais “o gato”!

O caminho para o aeroporto foi dureza, a 23 de maio estava bem lenta. Descobrimos que havia ocorrido um acidente na pista do lado oposto e as pessoas freavam os carros para ver o que havia acontecido. Ou seja, engarrafamento devido à curiosidade mórbida. Resultado, mais um motoboy para o saco! Depois da 23 o trânsito fluiu bem e apenas tivemos problemas novamente na entrada do viaduto que sai da Ayrton Senna para o Aeroporto. Era mais um acidente, desta vez um ciclista havia sido atropelado e ainda estava esticado lá no chão. Resultado, mais um cicloboy para o saco!

A chegada no aeroporto foi tranquila. Houve trabalho para retirar as malas, para desgrudar a Nanade da Sabrina, muito chororô, muitas promessas de visitas, muitas recomendações de última hora, mas tudo muito tranquilo. Obrigado Carraretta e Coxinha por mais este grande apoio na fase final.

Agora estávamos sozinhos, precisávamos resolver os últimos detalhes antes da viagem: Levar o e-DPV na Polícia Federal, pagar a passagem da Dalila e depositar o restante de reais que estavam em nossas mãos.

A declaração de saída dos dolares foi fácil. Como estávamos apresentando o dinheiro em Travellers Check, o agente da PF nem o contou, apenas olhou os comprovantes de compra e gerou o e-DPV final. Na volta, a Nanade teve que fazer uma última despedida. Paramos na Casa do Pão de Queijo e mandamos para dentro a especialidade da casa com chocolate quente. Para Dalila, sonífero e roupa de frio!

Entramos na fila do check-in e passamos uma hora esperando devido a quantidade de pessoas. Apresentamos nossos passaportes, pesamos as malas (todas tinham 28 Kg), deixamos a Dalila doidona, e fomos pagar a taxa da passagem dela. Ao retornarmos recebemos os nossos bilhetes e fomos avisados que deveríamos ir imediatamente para a sala de embarque, pois lá a fila estava grande e poderíamos ter problemas de horário (era 19:00h). Fomos correndo para a Sala de embarque quando nos lembramos que esquecemos de depositar R$500,00. Porém, só descobrimos isso quando estávamos no meio do Duty Free. Solução? Vamos gastar geral! Perfumes, batons, carteira, porta-dolar e quando nos demos conta já era a chamada final para o nosso vôo. Quase ficamos no Brasil por causa dos Reais.

Entramos no avião, passamos pela primeira classe e nos prometemos que futuramente iríamos parar por ali. Por enquanto, nos encaminhamos para a ala dos pobres mortais. Porém, mesmo esta área é bem diferente do que temos no Brasil. Cada poltrona tem uma TV individual, onde a opção de filmes, programas de TV e músicas é feita pelo próprio passageiro. Mais um pouco de chororô da Nanade, um Dramin na cabeça e já estávamos quase no Canadá.Após 10 horas e 20 minutos de vôo, como prometido, estávamos em procedimento de descida em Toronto. A visão da nova terra foi muito interessante. Ainda estava escuro e a visão da neve parecia que era um conjunto de dunas de areia. Por um minuto parecia que estava voltando para a minha terra NATAL (RN). Esta sensação foi muito interessante.

Ultimos dias

Os momentos finais de nossa vida no Brasil foram muito interessantes. Conseguimos juntar familiares e amigos e sentimos sempre que estavam todos pensando positiviamente para o nosso sucesso nas terras geladas.

A família sempre preocupada com o período inicial de adaptação e com a “perda” da proximidade conosco. Porém, tudo é relativo. Morávamos em São Paulo e nossos pais sempre nos visitavam de carro. O tempo de viagem entre Brasília e São Paulo (1000 Km) varia de 10 a 12 horas. O tempo de viagem de avião entre São Paulo e Toronto é de 10 horas. Esse papo de relatividade não convenceu a todos. Porém, tudo ficará bem, basta passar o susto inicial. Quanto à adaptação, acredito que tudo depende de nossa cabeça. Vivemos a vida inteira mudando de cidade a cidade que não escolhíamos e nunca tivemos problema para nos adaptar. Desta vez acredito que será mais fácil, pois foi uma escolha pessoal.

Quanto aos amigos, eles se preocupavam quando estariamos prontos para recebermos visitas. Afinal, uma estadia no Canadá de graça não é sempre que se consegue. Brincadeiras a parte, todos deram muito apoio e se colocavam sempre à disposição para nos auxiliar a distância. Temos muito sorte na vida e conseguimos nos relacionar com pessoas que realmente fazem a diferença. Isso é um privilégio!

Uma nota final sobre este assunto. Gostaria de ressaltar um sentimento muito interessante que as pessoas cultivavam quando contávamos que estávamos largando tudo o que construímos no Brasil para tentar uma nova vida no Canadá: Admiração. Muitos falaram que gostariam de ter esta coragem e cultivavam muita admiração por ver que estávamos juntos nesta batalha. Este sentimento nos trouxe muita força, pois nos sentimos orgulhosos pelo que estamos fazendo e sentir que as pessoas admiram este ato nos conforta.Obrigado a toda a nossa família e amigos pela confiança que depositam em nós. Afinal, estamos apenas mudando de cidade. :-)

Post Inicial

Estamos criando este espaço para nos comunicar com as pessoas que torcem por nós e também para ajudar aqueles que estão no mesmo processo. Assim, conseguiremos passar tranquilidade para nossos familiares e amigos. Portanto, todos aqueles que visitarem este blog, sintam-se a vontade para direcionar perguntas.

Nosso objetivo é passar uma visão divertida sobre o que passamos por aqui. Essa aventura está se monstrando bem empolgante e por isso gostaríamos de compartilhar com todos.

Inicialmente iremos colocar o que estamos vivendo agora, mas temos o objetivo de colocar também o que nos levou a tomar a decisão de tentar uma nova vida fora do país.

Espero que todos se divirtam como estamos nos divertindo.

Inicialmente os poss serão apenas textos. Com o tempo começaremos a inserir fotos, vídeos e outros recursos mais elaborados.