terça-feira, 20 de maio de 2008

Mudança de espaço

Pessoal,
boas novas. Criamos um novo espaço para continuar nossa diversão.

nanadeelunocanada.blogspot.com

Espero vocês por lá.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Oitava semana. O fim do sonho.

Esta semana foi longa. O começo foi logo no dia de uma entrevista muito importante. Consegui dormir bem, apesar de ter passado o dia com baixo astral. Mas a oportunidade era essa, era agora, era ali. A reunião foi marcada para 13 horas, então tive tempo de tomar um bom café, fazer a barba e até tomar um banho relaxante de banheira. Isso mesmo! Para quem batia a cabeça ao tomar banho, ter um “ofurinho” (diminutivo de ôfuror) é um grande luxo.

Durante o caminho para a entrevista eu me deparei com uma diferença em relação à nossa cultura que até então não havia prestado tanta atenção. Talvez seja porque eu estava em modo “atenção total”, mas o concurso de quem dá a melhor assoada no nariz em local público me fez rir durante os primeiros participantes. Porém, depois fiquei meio preocupado devido ao estágio avançado da força desprendida por algumas pessoas. Aquilo tem um processo de propagação igual ao bocejo, quando o primeiro começa, os outros têm uma reação imediata e continuam a sinfonia. É possível ouvir todos os estilos:

  • Simples: Ppppppprrrrrrrrrrrr

  • Ritmado: Ppprrrrr Ppprrrrrr Pppprrrr

  • Disfarçado: Pppprrrrrr HUH HUMM

  • Tímido: Pprr........................Pprr

  • Silencioso: Sssswwwiiisshhhhh. Esse são os piores, pois tem o perigo de pingar nas pessoas ao lado.

  • Brasileiro (aquele que não desiste nunca): Pppppprrrrrrrrrrrrrrrrrr Ppprrr Prrr Pppppprrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr Pppprrrrrrrr PPPPRRRRRRRRRR. Um senhor mandou um desse que quase pedi para ver o lenço depois, pois tinha certeza que um pedaço do pulmão tinha vindo junto.

  • Berrante: Ppprrr Fooooooomm Fuuuoooooooo Fuuuoooooo Fuoo Fuo Fuo Fuo Fuuuoooommm. Esse obviamente foi o campeão. Aquele senhor deveria tá tocando no metrô para ganhar a vida. Impressionante!

A entrevista foi mais complicada do que eu imaginava. Havia dois diretores e um deles começou a enveredar pelo mesmo lado do “you are over qualified” e isso me preocupou muito. Porém, senti confiança nas respostas que havia fornecido e saí de lá otimista. O resultado deveria sair brevemente, pois a área estava realmente precisando preencher esta posição. O gerente da área estava em viagem internacional e não poderia tomar qualquer atitude até a sexta feira. Tudo bem, dois dias para saber o resultado não iria me matar. Sendo ele positivo ou negativo, o importante é saber onde está pisando.

Durante a volta para o metrô resolvi fazer minha infalível técnica de pensamento positivo para atrair as empresas que estão em processo de contratação, que consiste nos seguintes atos:

  • vire-se para o local (coisa, idéia, etc) que muito lhe interessa;
  • Estenda suas mãos na direção pretendida;
  • Limpe sua mente;
  • Comece o seguinte mantra. “Venhavenhavenhavenhavenhavehavenhavenhavenhavenha”.

Faca isso até que sua mente comece a funcionar novamente e a lembrança de que está no meio da rua, por exemplo, comece a ser o pensamento principal. Isso significará que a concentração acabou. Porém, lembrei desta prática quando já estava na rua e no momento que resolvi me voltar à empresa havia um Tim Hortons entre minha pessoa e o local desejado. Preferi então não utilizar a técnica, pois um erro de cálculo poderia gerar resultados indesejáveis.

Sexta feira resolvi buscar algumas informações, mas soube que o Gerente havia chegado de viagem muito cedo e não houve conversa com a Diretora. Final de semana seria daqueles, sem informações e com a ansiedade batendo o recorde dos recordes. Afinal, eu tinha aquela oportunidade no quarto nível e as outras muito no começo. Particularmente já estava cansado de tanto contar a mesma história (entrevistas) para novas pessoas. Queria mais ação, contar novas histórias, novos desafios. O sábado passamos na casa do Edward e Jack e no domingo ficamos em casa morgando e fazendo a faxina da semana.

Segunda- feira comecei o dia bem. Pela manhã recebi uma ligação de uma das Big X (5, 4, sei lá quantas são agora) pedindo para que eu apresentasse uma data para entrevista ainda nesta semana. Depois de 20 minutos recebi uma outra ligação da empresa que havia sumido, conforme dito na semana passada. Eles demonstraram que ainda queriam me contratar e que estavam aguardando fechar um contrato onde meu perfil se encaixaria bem. Excelente! Agora sim, posso voltar a respirar. Os ânimos voltaram ao estágio que devem estar neste momento: nas alturas. Nada de baixo astral, nada de pensamentos negativos. O momento é de manter a confiança.

Um grande amigo de Brasília (O Camila) estava em Toronto e nos chamou para encontrarmos com ele no centro da cidade. Quando estava de saída recebi um e-mail do gerente da empresa ao qual eu estava esperando contato me pedindo mais informações sobre a meu status atual no Canadá e o número do meu SIN. Bem, para que ele quer pedir o número do meu SIN se não para me contratar? Ele pediu comprovante de landing, SIN e endereço. Assim, eu teria que scanear tais informações para enviá-las quando pudesse. Quando pudesse??!! Eu envio agora. Naquele momento ele estava saindo da empresa e combinamos que eu enviaria no dia seguinte. Para que se estressar? Fomos para o centro da cidade nos encontrar com o Camila.

“Refraseando”, fomos para o centro da cidade para tentar nos encontrar com o Camila. Ficamos 30 min esperando na porta de uma loja, ligando de 20 em 20 segundos para o seu celular brasileiro e nada de conseguir qualquer contato. Depois de tanta espera resolvemos andar pelo centro da cidade. BTW, a Yonge é muito feia. O Path dá um aspecto bem melhor à cidade e acredito que a partir de agora só andaremos por baixo da terra. Agora eu sei porque vemos tantos loucos nos metrôs, eles estão se dirigindo ao centro da cidade. Parece que no centro tudo é permitido. What happens in downtown, stays in downtown. Lojas de produtos eróticos se misturam com Taco Bell, The Hemp Company (Isso existe! Não é brincadeira!) e bares baixo nível. Uma das lojas de produtos eróticos apresentava em sua vitrine uma espécie de máquina do amor para mulheres solitárias. Era uma mistura de andaime com britadeira que realmente não acredito que deveriam estar expostas daquela forma na rua mais importante da cidade. Deixando de ser purista, a rua realmente não apresenta um aspecto muito interessante. Bem, nós não nos sentimos à vontade, mas foi um passeio esclarecedor.

Voltamos para casa e resolvemos jantar num restaurante japonês da redondeza. Apesar do preço um pouco mais salgado do que esperávamos, a comida é muito boa e recomendável para momentos de comemorações. De vez em quando fazemos este tipo de “estripolia” para que a tensão baixe um pouco e possamos voltar nossas forças para o que é realmente necessário.

Terça feira acordamos muito cedo e fomos direto para a Casa do Daniel e da Cinthia para podermos scanear os documentos requisitados e nos livrarmos desta pendência. Sabíamos que aquela espera poderia durar alguns dias e resolvemos dar um pulo no Dufferin Mall para comprar algumas coisas para casa. Eu teria uma entrevista às 3:00h com a Big X que havia me ligado no dia anterior, então resolvemos voltar para o nosso lar. Eu precisava me preparar, pois essa grande empresa entraria na lista das preferidas, juntamente com aquela que estava na fase final.

Durante minha preparação para a entrevista estava batendo um papo com o Ricardo (outro graaande amigo) quando recebi o e-mail do gerente da empresa apresentando uma Offer Letter. AAAAEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE! Eu não sabia o que fazer, lia? Ria? Corria? Gritaria? Corri no quarto e dei um grande abraço na Nanade. “Amor, acho que nossa espera acabou!” Voltei para ler a oferta e percebi que os termos estavam de acordo com o que havia pedido e o dia de início do contrato era “amanhã”. UAU! Não posso negar a ninguém que minha primeira reação foi deixar rolar lágrimas de alívio e emoção. Naquele momento percebi que o sonho havia acabado, agora tudo havia se tornado realidade, dia-a-dia, a nossa tão esperada nova vida. Conseguimos transformar uma proposta que nasceu há 8 anos atrás, quando ainda não tínhamos qualquer qualificação requerida no processo, em uma completa mudança de vida e agora um excelente emprego numa excelente empresa.

O que se seguiu foram diversos contatos com as pessoas que tanto apoiaram todo o nosso caminho. Algumas pessoas nos perguntaram qual foi a nossa estratégia ao chegarmos ao Canadá que nos deu um emprego tão rápido. A minha resposta é clara e nem sempre bem aceita. A estratégia começou a mais de 10 anos atrás quando ouvi pela primeira vez que o Canadá promovia este tipo de “facilidade” para obtenção de vistos. Para chegar aqui com uma carreira sólida precisei me formar, obter as melhores certificações do mercado em minha área, procurar empregos em empresas respeitáveis e, acima de tudo, encarar desafios que pudessem trazer credibilidade suficiente para convencer os outros que vale a pena contar com esse recurso, vulgo eu, em sua empresa. Ressalto que não sou nenhum gênio, nem me sinto desta forma, mas receber aquele e-mail me fez sentir com o dever cumprido em relação a esta proposta tão difícil.

O momento agora é de comemoração, afinal não é todo dia que conquistamos algo tão grande. Acredito que viramos uma grande página em nossas vidas, diria até um capítulo que está totalmente aberto para escrevermos novos sonhos e objetivos, mas o momento agora é de comemoração.

Diante disso, gostaria de divulgar que este será o último post desse blog. Acredito que o nosso objetivo de demonstrar o caminho inicial de um imigrante foi cumprido nesses 20 posts divulgados em dois meses. Agora retornaremos à nossa vida e esperamos que tenhamos passado uma visão clara que nada aqui é fácil. Porém, o bom humor ajuda a suavizar as dificuldades e clarear os caminhos.

Antes disso, gostaria de contar uma última aventura: A volta do primeiro dia de trabalho. Não preciso mencionar que o dia iniciou perfeitamente. Peguei o metrô e fui ao trabalho, conheci o ambiente e não fiz muita coisa. Processo normal de quem está entrando no novo emprego. A volta para casa me reservou uma grande aventura. Ao chegar na estação da Bloor com a Yonge percebi que havia algum problema e o metrô estava parado. Pelo sistema de som da estação foi informado que havia algum problema de saúde com uma pessoa na estação St George. Assim, as pessoas deveriam pegar um shuttle na bloor que iria nos deixar na estação Ossington. Para quem não sabe são 6 estações depois da Bloor. Quando isso acontece significa que alguém se jogou na linha do trem ou teve um ataque cardíaco dentro do metrô, pelo menos foi isso que os usuários me informaram. Ao subir para a Bloor vi que haviam muitas pessoas esperando o ônibus e uma chuva fina caia sobre nós. 10, 20 minutos se passaram e nada de shuttle. Além disso, a rua estava bem engarrafada, pois todos haviam saído do metrô para pegar taxis e conduções alternativas. Ao invés de ficar esperando, resolvi roubar a idéia de um casal à minha frente e tomei meu caminho à pé.

A visão da cidade, os sons em inglês e a chuva fina traziam à mente mais uma sensação de lavagem de alma. Parecia que eu estava me purificando com tudo aquilo que estava acontecendo. Andar 6 estações de metrô depois de um dia de trabalho e debaixo de chuva não era nada comparado à sensação de estar com os pés no chão novamente. Eu estava tão feliz que resolvi doar um Toonie que havia recebido de troco. Eu não sou uma pessoa de dar esmolas, mas esse dia merecia alguma nova atitude, um novo gesto de agradecimento. Eu já havia passado por alguns pedintes mas todos com cara de drogados. Logo à frente vi o senhor que iria ganhar o dia. Todo maltrapilho, sujo, boné rasgado na cabeça, sapatos esfolados, um copo do Tim Hortons na mão, sentado num poste de prender bicicletas. Fui em sua direção com o som do tintilhar das moedas em minha mente. Cheguei perto e joguei a moeda em seu copo para ouvir um.... Glub!..................... Glub????!!!!!!!!!! “Are you crazy, man?”. Minha nossa! O copo do velho estava com café! Eu não sabia o que fazer. “Meu senhor, mil desculpas. Eu.. Ha.. Pensei....”. O que eu falaria numa hora dessas? “Eu pago um outro café para o senhor”. Para a minha sorte, o senhor devia estar num dia tão bom quanto o meu e a única coisa que fez foi jogar o resto de café fora, pegar a moeda e dizer para eu não me preocupar que ele pegaria outro com o Toonie. Na minha cabeça já havia passado tudo o que é situação. Polícia, imigração, surra de mendigo. Depois disso, prometi a mim mesmo que nunca mais dou esmola na vida.

Ao andar para a estação Ossington ainda passei pela Spadina e seus moradores Chineses. Entrei na estação e vi que o metrô já havia voltado a funcionar há algum tempo. Ou seja, andei 1 hora na chuva, com direito a um grande mico, à toa. Cheguei em casa como um pinto molhado, cansado, mas louco de vontade de contar as novidade para a Nanade. No final do dia coloquei tudo na balança e pude perceber que esse foi o melhor dia do ano. TOP 3 da minha vida inteira.

Como é bom alcançar grandes objetivos. Desce um Haagen Dazs de morango!

"Princess, Welcome to our new life!"

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Sétima semana - A carteira de motorista

Nova casa, novos móveis, nova arrumação e logicamente novas aventuras. A primeira que enfrentamos foi lavar roupa nas máquinas pagas do prédio. Depois de ficar com a roupa toda empacotada durante quase 2 meses, precisávamos dar um ar para elas e resolvemos lavar a grande maioria. Nós não gostaríamos de guardar nada que estivesse mantido contato com o porão. Seria assim, uma literal lavagem de alma. Poderíamos então guardar tudo limpinho, novinho e com nosso toque familiar.

Começamos a separar as roupas entre claras e escuras e os montes começaram a crescer, crescer, até que percebemos que precisaríamos de CAN$2.00 para cada máquina de lavar e CAN$1.75 para cada secagem. Resolvemos contar as nossas moedas para avaliar se haveria dinheiro suficiente em casa. Tínhamos 5 moedas de CAN$1.00 e algumas de 25 cents que não chegava a completar o montante necessário. Precisaríamos trocar alguma nota para podermos completar pelo menos duas máquinas de roupas. O trabalho agora era retirar o máximo de roupas claras e escuras para que pudéssemos realizar apenas uma rodada de cada tipo. A briga foi enorme, pois a Nanade queria que TODAS as roupas dela fossem lavadas. Ela encontrou aranhas na granja (vulgo porão) e disse que nunca mais iria usar qualquer roupa que tivesse passado por ali. Como sou uma pessoa muito solícita, além claro de não querer trocar todo o seu guarda roupa, dei a vez para que ela enfiasse todos os seus pedaços de pano antes que eu pudesse pelo menos lavar minhas cuecas.

Combinamos assim: colocaríamos a roupa para lavar, já que tínhamos os 4 dólares na mão, eu iria no metrô trocar as notas, subiria na rua dos mercados para comprar algo para o almoço, voltaria para colocar as roupas para secar enquanto a Nanade preparava o rango em casa. Assim fomos, tudo como combinado. Porém, na hora de colocar as roupas para secar percebemos que a máquina só aceitava moedas de CAN$1.00 (loonies) e de CAN$0.25 (quarters). Quando trocamos o dinheiro no metrô só recebemos moedas de 2 dólares (toonies). Ai caramba! Lá vou eu de novo subindo 10 minutos de caminhada até a rua do comércio para comprar um cacho de uvas e conseguir as moedas trocadas. Contei certinho e voltei com tudo separado. Ao passar a roupa para a secadora percebemos que estava tudo encharcado. Talvez pelo fato de termos colocado muita roupa, mas resolvemos atolar tudo na secadora e ver o que dava. Claro que o dinheiro contado resolveu cair no chão e uma moedinha de 25 cents ficou no lugar mais difícil de pegar, mas isso foi apenas um detalhe dentro desta correria toda.

Ao voltarmos para buscar as roupas na secadora levamos um susto, pois continuavam molhadas e tivemos que bater tudo novamente. Isso não aconteceu sem antes eu ter que voltar no metrô para trocar mais dinheiro. Segunda batida de roupas e nada! Então resolvemos levá-las assim mesmo para casa. O apartamento virou um cortiço, roupas penduradas em todas as portas e cadeiras (foto em nossa seção à direita). A Sonya nos deu a dica que existem algumas máquinas melhores do que outras, mas que, de fato, ela acredita que colocamos roupas demais. A secagem aconteceu via ferro de passar. Foram 2 dias de passagem de roupa. Na verdade usei esta tarefa como terapia, pois minha prova de carteira de motorista estava chegando.

Neste meio tempo recebi o e-mail de confirmação da entrevista tão esperada, ela será na próxima quarta-feira (dia 30). Assim, dentro do nosso cronograma, na outra semana. Paciência, paciência!

Falando nisso, sexta feira, dia 25, o dia E (o dia D já tinha passado e eu tinha tomado pau). Acordei cedo, sem pressão, aluguei o carro e me dirigi à Oakville. A prova estava marcada para 14:00h e cheguei lá às 12:00h. Fiquei observando como as pessoas saiam do centro de teste, como era a cara dos examinadores, quanto tempo demoravam para voltar, etc. Depois de algum tempo resolvi passear num mall que fica em frente ao Drive Test Centre e entrei no supermercado Sobeys. Dica interessante: achei o ambiente e os preços deste supermercado muito atraentes. Durante meu passeio consegui achar uma coisa que ainda não tinha parado para prestar atenção: Haagen Dazs de morango. Hummmmm! Prometi a mim mesmo que passaria na prova e voltaria para comprar aquele sorvete como sinal de comemoração. Aliás, pausa para uma explicação histórica. Na época que eu abri a empresa com dois amigos (Ricardo e Carlos) nós criamos uma tradição que ditava que toda vez que conseguímos grandes feitos (fechar grandes projetos, finalizar grandes propostas) fumávamos um charuto. Se me perguntarem se fumar charuto é bom, responderei com a maior franqueza do mundo.... é uma bosta! Mas aquela cerimônia era deliciosa, nos sentíamos bem por ter conquistado coisas importantes na vida. Grandes lembranças desse período. Voltando ao presente, acredito que acabo de mudar esta tradição para algo mais saudável (será?!!). Bom, pelo menos eu não fico zonzo no final.

Depois do passeio pelo mall almocei no Tim Hortons e fui para a minha prova. Os instrutores eram das mais variadas etnias. Tinha negros, muçulmanos, chineses e até uma Singh que usava aquela bola vermelha na testa. Sinceramente, aquilo me incomoda. Será que é uma raspadinha? Se alguém raspar ali, será que acha um “você ganhou a carteira G”? Não sei, só sei que eu não teria a manha de raspar. Eu pedi muito para que ela não fosse minha examinadora, pois com aquele ponto vermelho fico com a sensação que ela está me filmando o tempo inteiro. Isso me deixa nervoso. Para minha surpresa a examinadora era bem “canadense”. Chegou no carro, pediu para fazer os comandos básicos e se mostrou bem simpática. Após entrar no carro ela disse que a única coisa que queria era um “safe drive”. Ok! Vamos nessa! Ao contrário da outra examinadora, esta apenas falava os comandos e não prestava qualquer atenção se eu estava olhando blind spot, espelhos, freando na hora certa, etc. Eu achei estranho, mas me tranquilizou. Em momento algum houve qualquer problema e em 15 minutos estávamos de volta ao centro. Ela me deu os parabéns e disse que eu dirigia muito bem. AAAAEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE. Mas espera aí! Ainda indaguei que havia feito a prova da G e que tinha sido muito diferente. Dica importante: a examinadora disse que a prova da G é muito mais pesada mesmo, que eles querem saber se o motorista realmente sabe todas as regras escritas no livro, mas que na G2 eles só querem saber se o motorista tem o controle do carro e paciência no trânsito. Sem problemas! O importante é que estou com a carteira na mão e só para comemorar voltei de Oakville até Toronto sem olhar no blind spot nenhuma vez. Aliás, institucionalizei o “blindspotless” weekend. Além disso, comprei meu merecido Haagen Dazs e o saboreei tranquilamente. Além da delícia do sorvete, este tinha um sabor de missão cumprida. Combinação perfeita.

Final de semana foi tranquilo, ficamos com o carro e compramos algumas outras coisas para a casa. Houve um churrasco na casa do Flávio para inauguração da primavera e nada muito agitado. Estava com uma gripe de matar.

Segunda-feira a festa da carteira já havia terminado, assim como a pilha de roupas para passar... o tempo. Além disso, recebi resposta negativa de uma empresa que estava bem avançada no processo. Isso foi uma grande frustação para mim. Dica importante: eles alegaram que eu era “over qualified” para a vaga. Porém, a verdade é que as empresas já entenderam como funciona a entrada dos imigrantes no mercado de trabalho. Muitos preferem buscar vagas em níveis menores apenas para pegar “Canadian Experience” e logo que conseguem esta variável, aceitam qualquer nova oferta. Assim, as empresas ficam receosas de contratar quem tem perfil para a vaga, mas não tem Canadian Experience. Porém, não contratam quem tem mais experiência do que o necessário, pois sabem que estão as usando apenas como “stepping stones” para algo maior. Ou seja, arrumar o primeiro emprego tem variáveis mais complexas do que eu esperava.

Terça-feira foi um dia muito baixo astral. Com a saída desta empresa da jogada e o sumiço de outra que também estava na quarta etapa de entrevistas, as coisas se reduziram a apenas à empresa cujo tenho entrevista na quarta feira. Pela primeira vez eu estou sem alternativas e isso me deixa preocupado. Cheguei em casa de tarde e só consegui deitar e dormir, pois minha cabeça estava estourando de dor. Tenho que estar preparado para a entrevista, não vou deixar as 3 entrevistas que já passei irem por água abaixo novamente por causa desta "guerra velada".

O resumo da semana é que não posso deixar me abalar. Afinal, consegui o segundo pé necessário para uma vida normal e amanhã terei uma importante entrevista para buscar aquele que me trará de volta à trilha. Descanso e foco é tudo que preciso agora. Grande semana a todos, pessoal.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Sexta semana - A mudança

Vida que continua, semana final em nosso calabouço, mistura de sentimentos. Felicidade por estar saindo daquele lugar e muita ansiedade para que o dia chegasse logo. Os sentimentos de nojo começavam a voltar como se fosse o nosso primeiro dia. Porém, preferimos focar nos sentimentos bons e arrumávamos nossas coisas como se estivéssemos saindo de férias de novo.

Antes da mudança resolvi passar por cima da chateação da carteira de motorista e procurar logo uma nova data para fazer a prova. Achei dia 25 de abril em Oakville e isso serviu para aliviar muito mais os sentimentos ruins. Eu me sinto preparado, por isso resolvi apenas esperar pelo dia da prova. Nada mais de aulas de auto-escola, estudo em livros e olhadas em blind spot. Aliás, essa palavra já está na minha lista negra. Eu já estou até sonhando com as pessoas me cobrando isso nos lugares mais incomuns. “Você entregou o documento sem olhar o blind spot?”. “Como você pagou esta conta sem olhar no blind spot?”. Acordo no meio da noite com isso, olho o blind spot para garantir e volto a dormir.

Mais entrevistas, mais entrevistas, todas com empresas de headhunters. Dica importante: assim que chegarem ao Canadá coloquem seus curriculos no Workopolis e Monster. Essas páginas funcionam muito bem ao te colocar na vitrine mais vista neste campo. A entrevista tão esperada foi postergada para a semana que vem, outras entrevistas interessantes apareceram, mas ainda na primeira base. Quero chegar logo ao home plate, mas preciso de mais alguns hits. Jogo que segue. Conseguir um homerun é bem difícil, mas não impossível.

Sexta feira fomos ao encontro de família e resolvemos pegar uma “carona” com o Flávio no GO Train. Isso é que estar no primeiro mundo. Infelizmente esquecemos de levar máquina fotográfica, mas as instalações do trem são um espetáculo. 35 minutos de uma pacífica viagem com vistas de cartões postais e estávamos em Mississauga. Flávio, isso é que é vida!

Sábado, o grande dia! A Nanade foi dormir às 6 da manhã de ansiedade. Antes de nos mudarmos para a casa nova, precisávamos ajudar o Wellington e a Sonya na retirada de suas coisas. Resolvemos levar nossas malas de metrô. Assim, restaria apenas pegar a Dalila depois. Claro que as coisas não foram tão simples assim. Já na saída de casa, aquelas malinhas de 32Kg não aguentaram e uma delas quebrou a roda. Tive que levar a mala na raça. Caminhada para ponto de ônibus, entrada no ônibus, descida das escadas do metrô, subida das escadas do metrô e quando chegamos à casa do Wellington minha cota de esforço do dia já tinha acabado. Porém, a brincadeira só estava começando. Durante nosso dia de trabalhadores braçais ouvi algumas vezes o Wellington dizendo: “quem mandou vir para o Canadá? Quem disse que ia ser fácil?”. Pois é, casa montada, emprego não mão, zona de conforto bem estabelecida e largamos tudo para carregar cama no Canadá? Seríamos nós uns loucos? Que nada! Sempre as respostas às perguntas eram outras perguntas: “Você que me diz, há algum arrependimento? Faria diferente?”. E finalizamos com: “nem que precisássemos carregar uma estante de 50Kg”. BTW, tivemos que fazer isso duas vezes. Ao nosso esforço se juntaram o Flávio, Edward e Edu. A Sonya e a Nanade comiam chips com coca zero enquanto nos matávamos. Elas eram as Projects Administrators da atividade. Ou seja, aquelas que gritam, direcionam, reclamam e no final ficam com as glórias. Para nós, peanuts (literalmente falando), mas pelo menos era com mel. Depois de descermos a bendita estante de 90Kg (o peso vai aumentando à medida que as forças vão acabando) para o basement a Sonya ainda teve coragem de falar: “humm, não gostei dele aí, acho que vou pedir para vocês colocarem no quarto do bebê”. “Sonya, essa cômoda só sai daqui quando destruírem esta casa”. As pernas já não aceitavam comandos. Para entregar o caminhão tivemos que fazer um esforço conjunto onde uma pessoa ia acelerando e a outra dirigindo. Pelo menos não podemos reclamar de falta de atividade física.

O dia foi muito longo, depois de carregar tudo na casa deles, ainda tivemos a festa da primeira comunhão da Carolzinha. No final da noite tivemos uma excelente carona do Francisco e Lu para buscar o que restava na casa. Percebemos que era muito mais do que simplesmente pegar a Dalila, então a carona foi muito proveitosa. Finalmente chegamos em um local que podemos chamar de casa. É pequeno, simples, mas não fede, nem é baixo. Pela primeira vez em muito tempo dormimos feito anjos. Roupa de cama nossa, limpinha, cheirosa. Sensação incomparável.

No domingo resolvemos alugar um carro para comprar coisas básicas para a casa. Wal Mart, Ikea e Dollarama foram os alvos e com 300 dólares compramos todas as coisas essenciais para a casa (tirando mobília). Pratos, panelas, produtos de limpeza, roupas de cama, torradeira, abridores de lata, talheres e aquelas quinquilharias que não tem como viver sem a presença. Procuramos mobílias, mas estávamos apenas fazendo pesquisas. Após mais um dia cansativo, dormimos bem cedo com a sensação de dever cumprido. Foi incrível perceber que tudo se renovou, parecia que havíamos chegado naquele dia. Uma nova vida estava começando. Então chegamos à conclusão que passamos à fase 2. Agora já sabemos o que queremos e já experimentamos as dificuldades do lugar. Dica importante: Percebemos que necessitamos de um tripé para considerarmos que estamos numa vida normal: moradia (não é fácil conseguir), carteira de motorista (não é fácil conseguir) e emprego (não é fácil conseguir). Conseguimos o primeiro ponto de apoio e isto nos dá força para correr atrás dos outros.

A continuação da semana passamos arrumando a zona que havíamos deixado na casa e fomos transformando cada vez mais o lugar em nosso lar. Para fechar a semana com chave de ouro, conseguimos comprar quase toda a mobília da casa por apenas $770.00. Incluindo: cama queen size box, mesa com 4 cadeiras da cor que a Nanade queria, rack da cor que a Nanade queria, televisão, floor lamp, conjunto decorativo de velas, mini forno, conjunto de facas, sapateiro, som stereo portátil, cappuccino, cera de depilação, entre outras coisas menores que não lembro. Uma brasileira estava voltando para o Brasil momentaneamente e resolveu vender tudo aqui. Sorte para nós e também desejamos toda sorte para a nossa nova amiga. Agora só falta um sofá e nossa casa estará montadinha. Tudo em 3 dias de nova casa. Incrível, mas estou muito confiante nesta fase 2. Pelo jeito que as coisas estão andando acredito que ela será mais curta que a primeira. Boa semana a todos.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Soneto: Meus pais

“O caminho, por mais responsabilidade que carregue, sou eu que decido,
Na direção que está nos genes, desde cedo preparados pela busca saudável
À felicidade. Os atalhos são desnecessários quando há uma história amável
Para dar sustentação aos sonhos criados a partir do exemplo bem sucedido.

Pai, mãe, a presença de sua sabedoria clareia qualquer ponto transcorrido,
Basta ouvir o coração transmitindo seus ensinamentos num tom agradável;
Como é simples viver com esses olhos revestidos de alegria sempre favorável
A encarar o próximo desafio que está na mira para ser dominado e absorvido.

Nesse momento tenho orgulho de ter vivenciado suas trajetórias e conquistas,
Transpondo as dificuldades com esforço, mas utilizando valor correto e soberano;
Ganham agora status para comentar o futuro com a competência de analistas.

O orgulho cultivado sobre a vida dos meus mentores já pode ser tratado sem engano,
Hoje o transformo em atos próprios para prover este sentimento, mas sejamos realistas
Se um dia for metade do exemplo que tive, já serei um grande ser humano.”

By Luciano Barreto

AMO MUITO VOCÊS!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Primeiro Mes (Quinta semana)

Desta vez demorei mais do que o normal para relatar como se passou nossa semana. O motivo é bem simples. Acredito que a quinta semana não foi o que podemos chamar de paraíso e fiquei um pouco desmotivado por um tempo. Vamos a ela.

Como relatei anteriormente, a semana começou ruim com um corte de cabelo bizarro, uma entrevista bizarra e uma job fair bizarra. Na quarta feira conversei com a Nanade que já não aguentava mais ficar naquele basement e perceptivelmente cada vez que adentrava ao recinto minhas feições ficavam mais contraídas. A resposta dela foi imediata: eu já não aguento faz tempo. Estávamos aguardando uma resposta de nossos amigos Sonya e Wellington para saber se seria possível ocuparmos o apartamento deles, já que estão de mudança para Mississauga. Porém, não sabíamos se o local aceitava animais. O contrato era claro ao afirmar que não podia. Então, resolvemos buscar mais opções, assim se a resposta fosse negativa já teríamos algo na manga. Acredito que isso serviu para nos colocar ainda mais para baixo, pois visitamos cada local... A reação em alguns deles foi parecida com aquela do vídeo dos expectadores do “2 Girls 1 Cup”. Segue a reconstituição da visita a um dos apartamentos. Detalhe, o loiro de óculos representa o realtor, pois ele sabia que nossas alternativas seriam pegar aquilo ou voltar para o basement: http://www.youtube.com/watch?v=OtRzf_ZcM0U&NR=1. Eu descreveria o episódio como “2 beds 1 bath”. Dica importantíssima: aconselho fortemente que nunca vejam o vídeo original das garotas, mas busquem no youtube as reações das pessoas, vocês irão bolar de rir.

As entrevistas da semana foram basicamente com Head Hunters. Sei que isso é o mesmo que plantar uma sementinha que pode dar frutos no futuro, mas tem hora que a ansiedade aumenta e essas entrevistas passam a ser “sacais”. Aquele sentimento que temos no Brasil que não podemos fazer nada novo, pois estamos à espera que algo mude (o recebimento do visto) continua por aqui. A diferença é que no Brasil estamos sendo pagos e escolhemos não fazer nada novo devido aos novos horizontes que estão por se abrir e quando estamos aqui estamos à procura de emprego para que esses novos horizontes realmente existam. Enquanto isso não chega, suas economias estão sempre na mira. Viemos com reserva suficiente para ficar mais de um ano sem trabalhar, mas a sensação de ver a falta de entrada de dinheiro é ruim. Isso logicamente só é percebido ao final do primeiro mês.

Aliás, fechamos o mês e gostaria de colocar nossas contas (bem por cima) para auxiliar aqueles que estão planejando seus budgets.

A surpresa do mês foi o alto custo com celular. Como minhas entrevistas estão ocorrendo muito por este meio, acabei gastando mais do que o esperado. Dica importante: aqui no Canadá, pelo menos o celular pré-pago da Rogers, você paga a ligação tanto quanto faz a chamada, como quando recebe. No meu plano pago $0.25 nos cinco primeiros minutos e $0.50 a partir daí. As entrevistas duram em média 20 minutos...

Quinta-feira feira havíamos marcado mais visitas a apartamentos, mas decidimos que aquela semana baixo astral iria acabar por ali. Resolvemos então ir almoçar num restaurante de verdade. Escolhemos o Joe Maggiano's (http://www.joessteakanditalian.ca/) onde as comidas são tão gostosas quanto bonitas. Nada como comer um salmão grelhado com verduras e legumes e um belo steak com batatas “solteiras” (apenas piada) para mudar o nosso humor. Fica a dica do restaurante. Ele fica na Sheppard com Victoria Park.

Parece que o almoço realmente mudou nosso humor e nossa “sorte”. Na própria quinta feira uma pessoa entrou em contato comigo para fazer uma entrevista no dia seguinte. Local escolhido, Joe Maggiano's. Coincidência? Vai saber! No momento que estava indo para a entrevista recebo outra ligação, desta vez do Wellington dizendo que não havia problemas com relação à Dalila e assim poderíamos fechar o contrato do apartamento. AAAAEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE! Essa notícia faria a Nanade pular de alegria e só de imaginar isso eu já me senti feliz da vida. A entrevista foi super interessante e acredito que gerará frutos. Não poderia ser diferente, eu estava tão satisfeito que fui muito relaxado. Foi um grande bate papo e tudo vai dando certo.

Sábado e domingo fizemos a festa. Com a desculpa de treinar para o Road Test que seria realizado na segunda-feira, pegamos a Jack, o Edward e o Edu e fomos para o Vaughan Mills (Pois é! De novo! Vou virar sócio do lugar). Antes almoçamos no Outback. No Domingo jogamos um boliche de manhã. Neste local, quem fizer 9 strikes seguidos ganha a bagatela de $3000. Fiz 5 seguidos e quase levamos esta brincadeira. A Nanade quase passou mal durante os jogos, já estava até fazendo planos para gastar a grana. Depois disso, almoçamos no Swiss Chale um excelente restaurante e com preços bem interessantes. Chegamos em casa pregados e a ansiedade com o Road Test não me incomodou. O Final de semana passou como uma flecha.

Segunda-feira, o dia D! Viajei até Burlington (60km de Toronto) para fazer a prova. Estava meio nervoso, mas quando vi que a prova durava apenas 15 a 20 minutos, relaxei. Não deveria! Cometi dois “erros” (que não concordei) e “failed”. Isso mesmo! Terei que fazer a prova novamente, agora na categoria G2. Os erros foram esses:

  • Estava na tarefa de fazer curva à esquerda em um semáforo. Junto comigo à minha esquerda havia uma pedestre para atravessar a rua. Era uma avenida larga com 3 pistas vindo e 3 indo. Quando abriu o semáforo acelerei, como não vinha ninguém na minha frente, olhei no retrovisor, olhei o blind spot e vi que a pedestre estava no meio da segunda pista andando em minha direção, logo, ela não teria como chegar ao local que eu passaria, certo? Errado! A Motherf... da examinadora disse que eu deveria ter esperado ela passar. Eu ainda argumentei que no “Driver Handbook” diz que só há erro no “right-of-way” se o pedestre tiver que tomar alguma ação, como por exemplo correr ou parar. Nenhum dos dois ocorreu, mas a examinadora disse que eu deveria ter esperado e pronto.
  • Saída da Highway, dobre à direita no semáforo. O semáforo estava fechado. Quando eu estava fazendo o approach ele abriu. Os carros à minha esquerda aceleraram. Como na minha frente não havia mais ninguém, olhei os retrovisores, blind spot e entrei. A examinadora disse que o semáforo estava fechado e que eu deveria ter parado. Ainda olhei pelo retrovisor e vi que todos os carros já haviam passado. Então pensei comigo: devo ter entendido errado. Quando finalizou o teste ela disse que eu tinha reprovado por isso. Eu disse que o semáforo estava aberto, mas ela, com um tom muito ríspido retornou um “estava fechado”. Então resolvi que não iria gastar meu tempo, já que já tinha gasto o dinheiro, com aquela escrota (me desculpem o palavriado). Recebi o papel amarelo e quase rasguei na fuça da pigmeu.

Pessoal, posso dizer a todos que esta foi a primeira vez que me senti derrotado. Durante 2 horas voltei ao baixo astral da quarta feira passada, mas logo conversei o Edward e outros brasileiros que me deixaram bem tranquilo quanto a isso. A Nanade foi vítima do meu baixo astral e não sabia o que fazer para me dar fôlego. A experiência é ruim e tudo aquilo que venho dizendo nas mensagens anteriores sobre este teste é verdade. As pessoas não tem muita boa vontade com quem vai tentar fazer direto o teste da G. Devo ter cometido mais falhas, mas já não me interessava em ouvir nada a respeito disso durante uma semana. Que venha o próximo teste.

A segunda ainda nos reservou um momento interessante. Fomos fechar o contrato de aluguel do apartamento e houve uma conversa muito importante sobre animais. Dica interessante: não há regra que proíba qualquer pessoa ter animais em sua residência. Assim, quem está errado são os espaços que dizem que seus ambientes não são “pet allowed”. BTW, caso você feche um contrato com um desses locais e quiser depois entrar com seu bicho, eles não podem te impedir. Isso foi dito pela própria dona do prédio (e também de mais 4 prédios), cujo contrato tem escrito que não pode ter animais. Ela diz que gatos e cachorros pequenos não são problemas, ela só se incomoda com cães de grande porte, mas mesmo assim nada pode fazer. Essa dica é valiosa para muitas pessoas que estão prestes a vir para cá. Se eu soubesse disso antes não teria tanto estresse para achar um local para morar.

Durante a terça recebi um outro telefonema com mais uma boa notícia. A entrevista de sexta-feira realmente gerou frutos e mais uma entrevista foi marcada para a semana que vem. Bola pra frente!

Nesses altos e baixos temos certeza que o relacionamento que mantemos em casa e o apoio da família e amigos são suficientes para nos ensinar a tirar o máximo proveito dos momentos positivos e o máximo do lado positivo nos momentos negativos. Confuso? Para nós é tranquilo, pois sabemos que estamos no caminho certo. Até semana que vem.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Ponto de Vista Feminino

Já era hora de eu deixar aqui o meu ponto de vista. Então, família amada, amigas queridas e pessoas queridas que estão participando de nossa aventura junto com a gente, (ainda que virtualmente), vamos lá...

Eu nunca tinha visitado o exterior, mas também quando o fiz, vim pra ficar. Foi engraçado porque acho que coloquei na cabeça que estávamos vindo pra passar umas férias e acho que por isso, não fiquei tãããão ansiosa...eu percebi que estava comendo um pouco mais que o normal (normalmente meus primeiros sinais de ansiedade são insônia e enjôo, conseqüentemente, falta de apetite), então acho que estava relaxada até demais. Minha ficha começou a cair quando já estávamos dentro do avião.

A primeira impressão que tive da cidade não foi muito boa, provavelmente por toda a história que o Lu já contou e eu cheguei até a pensar: como eu falaria pro Lu que e não queria ficar, que eu queria voltar pro Brasil?! Mas isso durou apenas um dia. Depois, cheguei a comentar com o Lu, que não queria morar em Toronto, mas isso durou apenas algumas horas.
Quando conheci alguns supermercados (eu e Lu adoramos fazer compras de mercado), alguns shoppings e algumas lojas como a Canadian Tire, tive certeza absoluta de que não quero voltar a morar no Brasil e de que quero morar aqui em Toronto.

Gente, a facilidade que a gente tem aqui é fascinante e viciante. Pra quem está vindo, não se preocupe em trazer feijão nem qualquer outra coisa...até guaraná tem aqui!

Depois de mais tranqüila, era hora de começar as aulas de inglês. Eu tinha uma idéia do inglês. Entendia algumas coisas, muitas vezes pelo contexto e olhe lá. O primeiro dia de aula foi terrível pra mim, porque não tinha o Lu pra me socorrer. E quando eu ficava nervosa ou não sabia como se expressar em inglês, não tinha outro jeito, foi desesperador. Mas logo já me aventurei... No segundo dia, fui numa lojinha perto da minha escola e resolvi que ia comprar um presentinho pro Lu. Entrei na loja, peguei o que queria e fui para o caixa. Lógico que me dei presente também, afinal, eu merecia pelo meu esforço, né? Lu perguntou se eu fiquei nervosa, mas não tinha muito o que ficar nervosa, já que eu não precisei falar nada além de “Good afternoon! e Thank you!”. Aí lógico que já estava me achando a própria canadense e resolvi no dia seguinte passar na farmácia, que por sinal também é um espetáculo. Na hora de pagar, eu simplesmente não conseguia acertar o valor que eu tinha que pagar. Eu escutava, mas não assimilava! A moça repetiu três vezes e eu já estava morrendo de vergonha, com uma fila enoooorme atrás de mim. Saí da farmácia sem nem olhar pra trás, mas comprei o que queria. Aí foi que Luciano se lascou, porque eu percebi que eu conseguia comprar as coisas sozinha. Que perigo, hein?!Depois disso, já fui no mercado sozinha, fui comprar um casaco e o dono da loja, um senhor muito simpático, até virou meu amiguinho. Batemos altos papos.

Agora tem sido assim, a primeira lojinha em que me aventurei, virei freqüentadora assídua, no mínimo duas vezes por semana. A dona da loja já até me conhece. Eu preciso praticar o inglês né minha gente?! E lá eu consigo exercitar, já que agora além do “Good afternoon!” and “Thank you!”, eu falo também “I’m fine, thanks! And You?”. Bem, querendo ou não, já é uma frase a mais pra minha prática, né?

Claro que eu preciso melhorar muito o meu inglês, mas estou me esforçando pra perder a vegonha de falar e conversar com as pessoas. Fácil? Não! Mas tudo depende do tamanho da sua diposição e da sua vontade de realizar. Não posso deixar de falar da força e da segurança que o Lu me dá...pra tudo! A gente conversa em inglês praticamente todos os dias e isso tem me ajudado muito. Ele é o meu suporte, meu encorajador, meu amigo. Sabe aquele sentimento de segurança? É o que ele me faz sentir. Não tenho medo porque estou com ele. Obrigada amor, por tudo!

A cada dia que passa e eu percebo que faço pequenos progressos ao conversar com o pessoal da escola ( e olha que os sotaques são de matar) e eu fico muito animada, porque antes eu não conseguia nem fazer isso. Acho que ainda não é hora de me cobrar muito, já que estou no curso há apenas três semanas. É hora sim, de absorver tudo o que eu puder e de me divertir, já que estamos numa grande aventura.

Enfim, estou muito feliz e muito bem adaptada. Antes de a gente vir pra cá, eu só conseguia imaginar que seria tudo muito bom. Eu simplesmente, não conseguia imaginar alguma coisa sendo ruim. E fora o lugar que estamos hospedados (temporariamente), de resto está sendo melhor do que eu imaginava, porque agora não é mais um sonho, é a nossa realidade!
Gente, o importante é tentar! Se você tem um sonho, arrisque, vá atrás, vale a pena. No mínimo? Uma experiência de vida. No máximo? Sua felicidade plena!

E aí, vai arriscar?

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Quarta semana

Nossa! Como passa rápido! Fechamos os olhos e quando abrimos já se passou mais uma semana. Fico imaginando que se estivéssemos de férias, estaríamos voltando para o Brasil agora. Que sentimento bom. Ainda não estamos nem no começo.

A semana começou com algumas pesquisas sobre como praticar os conceitos de direção para a Road Test. Como falei no post anterior, tirar carteira de motorista deve ser uma prioridade para os novos imigrantes. Além disso, não é uma tarefa fácil e deve ser levada muito a sério. Analisei alguns preços para alugar carros em empresas conhecidas (Hertz, Avis, Alamo), mas eram todos proibitivos. Por fim, o Edward nos levou em Brampton para alugar o carro com um conhecido. Ele nos pegou na estação de metrô de Kipling e nos dirigiu até o local. Achamos que o conhecido dele era de Manaus, pois durante o percurso eu cheguei a ficar com o passaporte na mão para apresentar a quem aparecesse, visto a distância que estávamos. Esses amigos Canadenses são impagáveis.

Conseguimos um carro modesto, mas que nos leva para todos os lados. Reforço o que já dissemos, ter carro em Toronto é fundamental, parece que temos outra vida agora. Pena que durará apenas duas semanas. Quem trabalha em downtown e mora perto de metrô não tem tanta necessidade, mas mesmo assim, ficar sem carro no final de semana também não dá.

Iniciei as primeiras aulas de readaptação na direção com o Edward. A Nanade era a co-pilota de instrutor. Resumindo a história: tem um tal de blind spot que você tem que olhar a cada 0.5 milésimos de segundos para trás que to começando a achar que seria muito mais fácil se todos dirigissem de ré. Praticamos durante 1 hora e meia, pegamos highway, blind spot, mudanças de faixa, blind spot, curva à direita com sinal fechado, blind spot, engarrafamento, blind spot. E isso não foi nada, a Nanade aprendeu esta palavra e agora até para deitar na cama eu tenho que olhar o blind spot.

Na sexta-feira fomos ao encontro com os brasileiros. Tivemos uma noite muito agradável na presença de nossos amigos e ainda comemoramos o aniversário da Luciana. Conversamos bastante e resolvi fazer o vídeo sobre a minha granja (http://www.youtube.com/watch?v=racCbex6Wt8). Eu o coloquei no youtube e ele se adiantou em aparecer no blog, mas para quem ainda não o viu, eu recomendo. Já recebemos várias críticas positivas sobre esta super produção. Eu sou o ator principal, a Dalila a coadjuvante e a Nanade é a Camerawoman e a risada da platéia.

No sábado aproveitamos nossa vida motorizada e voltamos ao Vaughn Mills. Eu sabia que voltaria, mas não sabia que seria tão rápido. Para mim foi excelente, dirigi bastante nas highways e minha contagem de “horas de vôo” está aumentando. Fizemos algumas compras de roupas básicas e conhecemos bem o Grande Mall. Dica: os Outlets da Nike, Reebok e Tommy Hilfiger são muito interessantes. Exemplos: Reebok, compre 2 e leve 3 tênis. Tomi: Qualquer peça que comprar a segunda sai com 50% de desconto, sendo que os preços já estão em 50% do preço original.

A noite fomos a uma festa na casa do professor de inglês da Nanade. Ficamos preocupados, pois não sabíamos como seria. A Nanade disse que ele havia nos chamado para uma “party”, mas não tínhamos a menor idéia do que seria. Fomos para o local com os dois pés atrás. Ao chegar lá tinha eu, a Nanade, o professor e mais 3 amigos do cara. Ficamos lá, um olhando para a cara do outro. Até que 30 minutos depois chegou uma grande turma de alunos dos cursos (cerca de 25 pessoas). No meio de japoneses, Mexicanos e Peruanos conhecemos uma Brasileira muito gente fina. A Vanessa está em Toronto há 3 meses aprendendo inglês. Batemos um papo e ela matou a saudade de falar português. A noite não foi muito longa, pois no dia seguinte iríamos à Niagara Falls e resolvemos voltar para casa mais cedo.

Niagara Falls here we go. O caminho é muito legal com vinículas famosas pelo Ice Wine e pelos Outlets. A cidade fica a aproximadamente 120km de Toronto e é feita para diversão. Chegamos e fomos direto ao Cassino para ver como funcionava. Nada de Poker (:-( ), só um monte de velhinhos puxando aquelas maquininhas de caça níquel e Black Jack. Eu fiquei imaginando que deve ser um saco ficar colocando moeda por moeda naquela maquininha para ver se cai mais moeda para colocar de novo na maquinha, para cair mais moeda.. Acredito que existam formas mais interessantes de acabar a vida. A cara das pessoas durante os emocionantes jogos é a mesma de pessoas na fila para fazer uma colonoscopia (ou endoscopia negativa para quem não conhece). Porém, eu estava totalmente equivocado. Minha cabeça é muito atrasada, hoje já não é preciso ficar colocando moedinhas na máquina, os velhinhos tem um cartão de crédito que fica amarrado a eles por uma correntinha. Eu acho que a correntinha vai direto no marcapasso dos velhotes e a cada prêmio que conseguem rola uma descarga de choque que os mantêm vivos. Aí sim, agora eu entendo porque eles puxam tanto aquela manivela. Diga-se de passagem, quando estávamos indo embora de Niagara e passamos na frente do cassino para ir ao estacionamento havia uma ambulância na porta. A Nanade achou que algum velhinho havia ganho um Jackpot.

As “falls” são fenomenais. As águas ainda estão descongelando e por isso não foi possível fazer o passeio no Maid of the Mist. Mas voltaremos em outra oportunidade para fazer este passeio. Além disso, percebemos que há grandes holofotes direcionados para as águas e a visão noturna deve ser muito interessante. Mais um motivo para voltarmos e desta vez passarmos o final de semana.

Você devem estar lendo até aqui e se perguntando: será que nada de engraçado aconteceu esta semana de novo? A resposta é: sim, aconteceu!

Segunda-feira fiz uma entrevista na hora do almoço e outra às 3 horas. Percebi que não dava mais para ir a entrevistas com aquele cabelo, já dava para fazer traças na minha costeleta. Assim, resolvi procurar um lugar para cortá-los. Dica: segunda feira é o dia que os barbeiros fecham as suas portas. Passei pelas Koreanas e elas disseram que naquele dia só rolava “waxing”. Achei que não seria interessante entrar naquele local. Mais à frente eu vi que o “Cleopatra Beauty” tinha gente dentro, contra minha vontade cheguei à porta, mas as pessoas estavam apenas limpando. Fiquei aliviado, afinal como escreveria aqui para vocês que havia cortado o cabelo na Cleopatra Beauty? Desisti de cortar o cabelo e fui colocar uma correspondência para a Cinthia nos correios. Dentro de um mall encontrei um cabelereiro aberto e resolvi entrar, afinal precisava estar bem preparado para as entrevistas que viriam. Agora que a Saga começa.

O processo começou com a mulher enrolando um papel higiênico no meu pescoço. Isso foi um péssimo sinal. Já viram onde vai parar, né? A primeira pergunta foi: “qual o número?” Que número? “O número da máquina para passar aqui na parte de baixo do seu cabelo”. Não, não, corte com tesoura, não quero passar máquina no cabelo. “Aqui nós cortamos com máquina, caso contrário demoraria o ano inteiro”. Me senti no colégio militar, mas já que estava ali para mais uma aventura... What the hell... Qual o maior número? 4? 4 it is! A mulher preparou a máquina 4 e pegou um pente de dentro de um jarro com um líquido azul sobre a bancada. Aquilo deve ser para esterilizar ou algo assim, mas quando ela puxou o pente, remexeu o fundo e um monte de cabelo começou a se agitar lá dentro como se pedissem socorro. Meu estômago revirou e eu quase precisei de um saco de vômito daqueles que distribuem em avião. Talvez fosse interessante inserirem este ítem no “kit corte de cabelo” do salão. Aquilo parecia um aquário de pentelho, tinha de todos os tamanhos e cores. Procurei olhar para o outro lado antes que um acidente ocorresse. Depois de tosar o meu cabelo com a máquina, a mulher passou para a parte superior. Ele pegou o meu cabelo e perguntou: “this size?” Caramba! Era melhor passar a máquina desse jeito. Não, bem maior! Tire só as pontas. Logo na primeira pegada no cabelo percebi que a mulher não tinha muito a “manha”. Ela segurava o cabelo com a mesma mão da tesoura e deixava a mão do pente livre. Como cortar o cabelo nesta situação? Queria ver qual seria a jogada. Mal sabia eu que havia um processo de passagem de uma mão para outra e a cada vez que ela fazia isso o pente dava uma “chapuletada” na minha cara. A porrada era ardida e depois da terceira eu tive que intervir. Daí para frente só vi o cabelo diminuido e diminuindo. Eu avisei para ela que não podia cortar muito curto, pois eu tinha um redemoinho (hair there main O) na parte posterior da cabeça e se ela fizesse isso o cabelo arrepiaria. Acho que eles não conhecem este conceito aqui e a mulher me ignorou. Não preciso dizer que fui para casa com o cabelo parecendo com pena de bunda de pato, certo? Chegando em casa eu achei que estava ruim, mas a Nanade me deu a pior notícia. O cabelo está torto e quando ando parece que estou dando seta para a esquerda. Agora terei que ficar olhando o blind spot até a pé. Desastre total! A cada dia que passa eu acho um buraco diferente na cabeça. Como uma pessoa consegue fazer buracos com uma máquina? Impressionante! Por favor, alguém me ajude neste assunto!!!!!!!!!!!!

Terça-feira fui para outra entrevista e depois para uma Job Fair. A entrevista não foi muito boa, acho que a mulher ficou mais preocupada com meu novo corte de cabelo do que com minhas palavras. A Job Fair foi uma decepção para mim. Tinha meia dúzia de empresas e apenas uma oferecia vaga na minha área. Passei 20 minutos lá e voltei para casa. Passei o resto do dia de bobeira. Este início de semana foi muito para a minha cabeça. Porém, dias de pouco, véspera de muito. Vamos ver o que nos aguarda para o resto da semana.

sábado, 5 de abril de 2008

Terceira Semana

Gostaria de começar esta semana falando sobre uma errata relativa à informação sobre os cursos de inglês. Relatei que o LINC continha até o nível 4 e o ESL até o nível 8. Porém, isso se aplica apenas à escola onde a Nanade está fazendo o curso. Provavelmente as pessoas responsáveis pelo ESL neste local nos venderam o modelo desta forma. Há uma questão política do LINC ser mantido pelo Governo Federal e o ESL pela província, mas não quero entrar nesta dicussão aqui. Vale de informação para quando forem procurar o melhor curso para vocês. Portanto, em outras escolas o LINC vai até o nível 8. Luciana e Alexandre, muito obrigado pela informação.

A semana começou com a realização de um grande sonho. Assisti a um jogo da NBA junto com a Nanade e, o melhor de tudo, consegui pegar o jogo do meu time de coração: Detroit Pistons. Eu estava na casa como torcedor do time visitante. Como estou habituado a ir a estádios fiz questão de não colocar nenhuma cor do meu time, pois se fizer isso no Brasil é pedir para ser morto. Chegamos ao Ginásio e percebemos que ainda temos muito a aprender, as pessoas vestiam camisas do time visitante sem qualquer constrangimento. Nota Interessante: o Air Canada Centre fica praticamente dentro da Union Station, portanto em nenhum momento saímos na rua. Espetacular!

Na entrada do ginásio recebemos vários papeis, botons, cadernos, etc. A Nanade jogou logo fora a metade do que tinha recebido. Compramos comida e fomos para nossos lugares. A entrada já nos deslumbrou pois havia música alta, povo agitado, luzes, telão, pessoas dançando, e ainda faltavam 15 minutos para começar o Jogo. Logo que entramos, os times também foram à quadra para o aquecimento. Minha emoção foi ao nível máximo. Me senti como um garoto de 2 anos que vai ao Circo pela primeira vez. Meu coração batia tão rápido quanto no dia que conheci a Nanade e por um momento eu congelei. A Nanade filmou minha cara de fascinação e eu nem percebi (http://www.youtube.com/watch?v=h88XnU1O7F0). Eu estava ali vendo personagens que sempre acompanhei pela televisão, jogando o esporte que sempre adorei. Se a nossa vinda para o Canadá se resumisse àquele momento, acredito que já teria valido à pena. Porém, o melhor de tudo é saber que esta é apenas uma das grandes emoções que teremos neste país maravilhoso.

O jogo começou e percebemos que não são apenas os jogadores que fazem a festa. Durante toda a duração do jogo há interação com a torcida. Dica Importante: todo papel que te derem na entrada *não joguem fora*. Haverá uma promoção para cada coisa que te deram. Foram vários prêmios, desde BubbleHeads e camisas até ingressos no Courtside Seats. Aliás, vou deixar isso registrado aqui. Ainda hei de assistir um jogo daquelas cadeiras.

Começamos torcendo timidamente, mas no meio do jogo já levantávamos gritando as cestas de 3 pontos dos Pistons. Nota negativa: perdi a Nanade para os Raptors. Ela viu a torcida vibrando e prefere torcer para este timinho. Fazer o que? Ninguém é perfeito. BTW, fui para casa sendo zoado, pois os raptors levaram essa.

O resto da semana foi excelente, fiz entrevista todos os dias e acredito que está ficando quente a notícia mais importante desta primeira fase no país. Antes disso, gostaria de deixar um registro importante para todos os que estão vindo para o Canadá. O sistema de transporte é excelente, basta você ir no site do TTC (http://www.ttc.ca/) e procurar pelos mapas de transporte. Procure pelo número do ônibus que trafega em cada rua e busque o seu itinerário e horário que passa em cada ponto. Tudo funciona! Porém, o foco principal para os novos imigrantes deve ser tirar a carteira de motorista. As cidades que compõe GTA são afastadas, assim se ficar apenas em Toronto não trerá problemas, mas se tiver que ir para as cidades vizinhas, terá que ter muita paciência e tempo. Tive uma entrevista em Mississauga e precisei utilizar o transporte público. Fiz um planejamento de viagem e sai com todos os números de ônibus e metrôs necessários para chegar ao local. Tudo funcionou perfeitamente. Porém, demorei 2.5h para chegar ao e mais 2.5 horas para voltar. Ou seja, tudo é muito legal e funciona, mas fazer isso num frio de 0 grau não é uma experiência que pretendo fazer como meio de vida.

No sábado fomos à casa da Iolanda em Richmond Hill. O lugar é muito legal, tem comércio por perto, malls, casa bonitas e um bom espaço para pessoas com crianças pequenas. Tomamos um café da manhã com comidas “locais” (bagels, cakes, wafer, juices “de caixinha”, etc), mas o café era do Brasil. Quanta diferença! Depois fomos ao Vaughn Mills, um Mall gigantesco com vários Outlets. Para dar uma volta no lugar é preciso fazer dois pit stops. A Nanade quase ficou maluca com a quantidade de lojas. Já vi que teremos que voltar com mais calma numa outra ocasião.

No domingo, ficamos em casa de bobeira. A semana foi cansativa. Acredito que andei mais de ônibus e metrô nestas 3 semanas do que em toda a minha vida. Então nos contentamos com uma comida caseira e cama.

A Segunda começou com mais entrevistas, mas nenhuma novidade que deva ser ressaltada. Consegui finalmente marcar minha Road Test para a carteira de motorista e preciso praticar muito. As regras são diferentes e se não praticarmos as chances de insucesso aumentam consideravamente. Não adianta ter 15 anos anos de carteira, acreditem. Portanto, já estou em contato com uma auto-escola para tirar alguns vícios e pegar outras manhas.

A novidade da semana é que em nossa garagem vive um Raccoon (que a tradução significa Dalila). Nós ficamos impressionados com a semelhança e achamos até que deve haver um parentesco muito próximo. Estamos preocupados, pois se descobrirem que trouxemos um guaxinim do Brasil vão querer nos colocar em quarentena.

A semana não nos reservou histórias engraçadas, mas as coisas estão ficando cada dia mais e mais normais. Isso é um alívio, afinal procuramos um local que seja considerada a nossa casa. Mais uma vez, acreditamos que estamos no caminho certo.

domingo, 30 de março de 2008

Segunda semana

Pessoal as coisas começaram a andar mais rápido por aqui e iremos fazer resumos semanais a partir de agora, pois estamos começando a ficar sem tempo para resolver as coisas. Isso é excelente, afinal é um indicativo que já estamos começando a entrar no ritmo de vida normal.

A semana começou com o início das aulas de inglês da Nanade, como toda criancinha, tive que levá-la pela mão no seu primeiro dia, pois ela não conhecia os coleguinhas. Ela ficou de chororô do lado de fora da sala até o Tio vir chamá-la para entrar. Ela ficou com aquela cara de cachorrinho pidão até eu sumir nas escadas. Já estou preparado para ter filhos.

Deixei a Nanade na aula e fui fazer a tradução do documento do Denatran no Consulado. Dica interessante: levem cópias da carteira de identidade e carteria de motorista quando forem fazer esta atividade. O consulado tem um guichê só para brasileiro e não demorei nem 5 minutos por lá. Paguei os 18 dolares do serviço e me avisaram que a documentação estaria pronta no dia seguinte. Voltei na data determinada e demorei mais 3 minutos para conseguir o documento. Pelo que conversei com os outros brasileiros, tive sorte. Normalmente demoram quase uma semana para entregar o material.

Fui direto para a Metropolitan Library (Yonge North). Dica: façam cartão de biblioteca. O espaço é excelente para estudar, tem internet wireless (e computadores disponíveis) gratuitos, livros a disposição e bastante espaço sem barulho. Fiz meu cartão e usufrui da internet durante todo o dia. Aproveitei o momento de silêncio para estudar para a prova escrita da carteira de motorista.

Depois da biblioteca fui buscar a Nanade na aula e voltamos para casa conversando sobre as dificuldades que encontrou. Já no primeiro dia a Nanade comentou como temos (nós brasileiros) sorte por termos uma língua parecida com o Inglês. A sala de aula contém Paquistaneses, Chineses, Afegãos, Japoneses, Ethiopes e algumas outras nacionalidades da África e Ásia. Cada um tem sua dificuldade específica. O Paquistanês não fala o T, assim as perguntas saem “Whas are you doing?”, ou seja, tem S em todo lugar. Os Afegãos colocam R onde não tem (Wharrrrr arrre yourrrrr doirrrngrrrr?), conversar com eles parece que está no meio de um tiroteio, hummmmmmm, por que será? Os chineses não conseguem falar consoantes (Uá ae you oin?) e os Japoneses não conseguem falar nada, pois usam aqueles dicionários eletrônicos que traduzem tudo que querem, assim não precisam aprender.

Aliás, no dia seguinte, na biblioteca, tive um momento divertido com um desses japoneses aprendendo inglês. Estava sentado numa mesa quando se juntaram o aluno japonês e um canadense (a biblioteca é cheio de pessoas aprendendo a lingua). O Professor retirou da cartola uma lista de palavras muito difícies para o seu aluno repassar a fonética. O diálogo que se seguiu foi mais ou menos assim:
- Liiiiiiiiiiiiibal
- No, No. It’s Label, remember? Open “A”
- Liiiiiiiiiiiiiiiiibal
- No, Tamagoshi. Open “A”, like DAAAY. Laaaabel
- Ok... liiiiiibal. (Nesta altura eu já tinha desistido de ler meu livro da carteira de motorista)
- Let’s try another one
- Niiiiiiiiiver.
- Niver is another thing. This one is Never. Like Heaven (apontando para cima)
- Niiiiiii....
- Ok, Nevermind. Skip this one.
- Liiiiiiiiiither
- It’s Leather. Same sound of never (Caramba, mas ele já tinha “skipado” esta. Como esperar que ele acertasse? Eu tinha que me controlar, fixei o olho no notebook para disfarçar)
- Riiiiiiiither
- It’s rather, for Christ sake (bem baixinho)! You gotta study harder on this one. (Eu percebi que o professor tinha desistido, ele fez um cara de “devo ter jogado pedra na cruz” e rapidamente passou para outra lista)
- Miiiiiiiiiiiter
- That’s it. You are very good. Meter. (eu quase dei a volta olímpica com o Tamagoshi. Ele não percebeu que continua sem saber falar as palavras, mas o professor achou uma que ele conseguisse falar. A alegria do japa era contagiante.)

Heater, niver e outras palavras com os sons que o Japa sabia falar se seguiram e pude constatar o que a Nanade tinha falado no dia anterior. Realmente temos sorte pela nossa fonética ser parecida, sem contar que nossas letras são iguais também. Isso nos dá uma vantagem sobre os outros imigrantes.

A partir do segundo dia de aula a Nanade já começou a pegar mais confiança no seu inglês. Ela foi numa loja e fez compras sozinha, pode parecer pouco, mas para nós foi a quebra de uma grande barreira. Fico muito feliz e orgulhoso, pois sei que os primeiros encontros com a lingua são os mais difícieis e como ela estava sempre do meu lado não precisava se preocupar. Ao encarar umas compras sozinha demonstra que a partir de agora as coisas irão acelerar.

Sexta feira, feriado, resolvemos ir na CN Tower. Dica Interessante: o TTC tem o Daypass que nos sábados, domingos e feriados pode ser compartilhado por duas pessoas. Assim, eu e a Nanade pagamos CAN$9 e pudemos andar de ônibus, metrô e street car quantas vezes nos deu na telha. No início do passeio uma pessoa nos pediu para tirar uma foto para ela e pelo sotaque descobrimos que era uma brasileira que estava fazendo curso de inglês por aqui. Ganhamos uma companhia em nosso passeio. A vista da CN Tower é de tirar o fôlego. É possível ver a cidade inteira e a vista do inverno é muito bonita. O dia estava ensolarado e isso nos ajudou a ter uma visão completa da beleza da cidade. A CN tower tem o Glass Floor onde as pessoas tem muito nervoso em passar por cima. Vamos admitir que a primeira encarada não é fácil, você olha para baixo numa altura de 610m e vê as pessoas e carros muito pequenos lááááááááá embaixo. Tiramos várias fotos e no final já estávamos bem à vontade. Rolou até um sambinha tabajara no Glass Floor como pode ser visto no vídeo aqui da página (http://www.youtube.com/watch?v=FXzIUG6mfdQ). O local é cheio de visitantes e nos deparamos pela primeira vez com uns árabes que usam um penteado que lembra aqueles vendedores de quebra-queixo ou as lavadeiras do Nordeste. Eles colocam uma pano na cabeça que parece um quindim à venda. Cada um na sua, desde que não me ofereçam uma mordida. Lá de cima conseguimos visualizar que havia um local à beira do lago onde as pessoas estavam patinando e passeando. Saímos da CN Tower e fomos direto para este local.

Ao chegarmos à beira do lago (Harbourfront Centre) tivemos uma excelente sensação de tranquilidade. O lugar permite que as pessoas patinem sobre o lago congelado (tudo natural) e há um pier onde conseguimos passear e olhar a natureza. Grande programa para um final de semana. Falaram que durante o verão tem aulas de windsurf e outras atividades interessante para fazer. Já vimos que será um ponto que visitaremos bastante.

O sábado nos reservou uma emoção pessoal. Joguei basquete desde os 6 até os 21 anos de idade e acompanho NBA desde 1989, quando a bandeirantes começou a transmitir os jogos. Comecei a torcer pelo Detroit Pistons só para encher o saco do meu irmão que torcia pelos Lakers. Depois disso acompanho ano a ano as temporadas como grande fã. Após esta contextualização, voltemos ao sábado. Fomos ao Air Canada Centre para ver as atrações que iriam acontecer por lá e vimos que os Pistons iriam jogar na quarta feira. Compramos os ingressos imediatamente. Isso será a realização de um sonho de moleque!

O domingo foi mais um dia maravilhoso rodeado de amigos. Fomos à estação Old Mill onde encontramos mais um casal de amigos (Wellington e Sonya) e após conhecer o apartamento deles (muuuuito show de bola) fomos para um almoço de páscoa em Mississauga na casa do Edward novamente. Tiramos várias fotos (podem ser vistas do lado direito do blog), inclusive da geladeira ao ar livre. Conhecemos mais um pedaço da turma de brasileiros. Essa galera vale ouro!

A segunda feira reservou mais uma entrevista, desta vez em Mississauga e pude contar com a ajuda do Alexandre com uma grande dica. Dica Importante: Site Mississauga.ca serviço Click ‘n Ride (http://www4.mississauga.ca/ClicknRide/). Você coloca a hora que tem que chegar aos lugares, de onde está saindo e recebe um plano de “viagem” contando a hora que deve chegar aos locais, os ônibus que deve pegar, etc. Adinhem? Funciona como um relógio e cheguei na hora para a entrevista sem qualquer problema. Ponto positivo para este serviço. A Nanade foi à aula de inglês, mas por algum motivo bateu com a cara na porta.

Terça feira fiz a prova escrita e “médica” para retirar a carteira de motorista e agora tenho uma carteira G1 que me permite dirigir caso tenha alguma pessoa com carteira G ao meu lado. Logo, não serve para nada. Tenho que fazer o teste de rua para tirar carteira G. Ainda na terça fiz uma outra entrevista. As coisas estão realmente esquentando. Em breve espero anunciar boas novas.

Assim, nossa segunda semana chegou ao fim. Estamos gostando cada dia mais da cidade e acreditamos que a decisão que tomamos foi mais do que acertada. Ficamos agora na torcida para os outros amigos que estão na angustiante fila para receber os pedidos de exames. Força galera!!!!!

sábado, 22 de março de 2008

Sexto dia (Terça feira)

Este dia foi agitado e com algumas descobertas interessantes. De manhã fomos ao Centro de Apoio aos Imigrantes para realização do teste de inglês. Ao chegarmos ao centro pedimos para realizar o teste para o LINC, pois esse foi o curso que haviam nos indicado. A secretária do curso nos questionou porque havíamos escolhido o LINC e não o ESL. Bem, nós não tinhamos a menor idéia da diferença entre eles, então pedimos que nos explicassem. Segue um resumo para aqueles que irão procurar tais cursos:

LINC (Language Instruction for Newcomers):
· Contém os níveis de 1 a 4. Ou seja, é apenas para iniciantes
· É gratuito
· Há apenas um local na cidade onde é possível realizar este teste, em Downtown

ESL (English as a Second Language)
· Contém os níveis de 1 a 8. O oitavo nível é preparatório para o TOEFL
· É pago
· O teste pode ser realizado na própria escola.

Ficamos meio em dúvida, pois haviam dito que as aulas eram gratuitas para imigrantes, então resolvemos perguntar o valor do curso. Resposta: CAN$20,00 por trimestre/nível. Caramba, achávamos que eles iriam cobrar uma fortuna, já estávamos achando que este papo de curso de graça era balela do governo. Mas, “CAN$20,00/trimestre = FREE”.

Decidimos então fazer o ESL mesmo. A prova segue os mesmos moldes das provas no Brasil: Read, Write, Listening and Speaking. No final acabei resolvendo não fazer as aulas, pois já havia alcançado o último nível e pretendo usar meu tempo para procurar emprego. A Nanade vai começar amanhã. Ela pegou também um curso específico de pronúncia. O curso também oferece conversação aos sábados. A aula normal vai de 9:00 às 14:30 todos os dias. O curso de pronuncia é segunda e quarta e vai de 15:15 às 16:45h. A escola fica a 20 minutos de casa (andando).

Tudo resolvido, voltamos para casa, pois eu tinha a minha primeira entrevista. Chegamos correndo, passamos roupa, pegamos o mapa e fomos embora. Um ônibus, dois metrôs e um taxi depois, estávamos no local especificado. Resolvemos ir juntos, afinal iríamos para um local diferente do que estávamos acostumados e seria uma boa oportunidade para novas descobertas.

Fiz a entrevista que gerou frutos, mas as coisas aqui são mais lentas do que no Brasil. O importante é ter paciência. Aqueles que acham que esperar o pedido de exame médico do processo federal é angustiante, deve ficar esperto e guardar um pouco de paciência para trazer ao Canadá. A sensação de estar desempregado é muito ruim e sua ansiedade aumenta consideravelmente. Um dia nesta situação parece uma semana. Assim, devemos ter os pés no chão e saber que teremos que passar por isso. Nós viemos preparados, portanto estamos segurando ao máximo a ansiedade. Nossa estratégia é achar que estamos de férias para que tudo vá se encaixando. Espero não ter férias prolongadas. Achei que nunca falaria isso.

Nota interessante: precisávamos pegar um taxi para voltar para casa e fomos informados que naquela região não seria possível (ou seria muito difícil) arrumar um taxi na rua (flag a taxicab). Assim, nos apresentaram um serviço muito eficiente. Basta pegar o celular é discar “#TAXI” (“pound taxi”) e sua ligação cai num sistema que te direciona para uma Cia de Taxi específica ou para a companhia que estiver disponível no momento, dependendo de sua escolha. Fomos atendidos rapidamente. Ponto positivo para este serviço.

Na volta paramos no Eaton Centre para almoçar e durante nossas caminhadas percebemos como tem gente doida pelo meio da rua. Quando dizemos doido, é maluco mesmo, com problemas e sequelas. Estávamos subindo uma escada e um desses doidos virou para nós e desceu uns dois degraus para ficar nos encarando. Ele segurou na altura da cintura como se estivesse segurando uma arma. Esperamos calmamente a escada acabar para ver sua reação, quando ele saiu da escada fez um movimento como se fosse dar um soco na pessoa que estava entrando, mas desviou bem no momento de acertar. A pessoa ficou indignada, mas nada fez. O doido continuou sua viagem como se nada tivesse ocorrido. Falamos dessa nossa percepção para outro amigo e ele disse que essas pessoas não são doidas. Elas têm mania de falar no celular com dispositivos bluetooth. Meu amigo, só se inventaram um novo receptor que é instalado no cérebro deles, porque todos os que vimos só usavam a tecnologia Notooth ou Toothless.

Uma outra nota interessante para as mulheres. A Nanade estava bem preocupada em como ficaria os seus cabelos, sabe como é, né? Aquela briga eterna que toda mulher encara. Ela teve uma surpresa, pois achávamos que o clima era muito úmido, o que (teoria feminina, estou apenas escrevendo a respeito) seria ruim para cabelos cacheados. Ela está conseguindo viver sem fazer escova, pois devido ao tempo seco, os cabelos “se comportam”. Porém, este mesmo clima trouxe outra surpresa. A pele das nossas mãos e lábio ficam extremamente secas e quebradiças. As mãos da Nanade estavam descamando e isto estava a incomodando muito. Fomos até uma farmácia e a farmacêutica nos indicou um creme hidratante mais “intenso”. Os cremes que a Nanade trouxe do Brasil não estavam funcionando. Este que compramos está dando conta do recado.

Voltamos para casa e a noite foi difícil para a Nanade devido à sua ansiedade com o início do curso. Temos certeza que tudo correrá bem, mas primeiro dia de aula é complicado mesmo.

Sexto Dia (Segunda Feira)

A Segunda também foi um dia parado. Durante a manhã o pessoal da Cia de Gás apareceu e resolveu o nosso grande problema. Finalmente tínhamos uma casa quentinha e também a possíbilidade de cozinhar o nosso primeiro almoço caseiro. O cardápio foi arroz, feijão, carne moída com grão de bico e Lemonade. Tenho certeza que todos achavam que seria algo de outro mundo, certo? Mas depois de ficar quase uma semana comendo sanduíche, um arroz com feijão é algo de outro mundo.

Tínhamos planejado ir ao consulado para fazer a tradução da “Consulta da Carteira Nacional de Habilitação” que é retirada no site do Denatran. Esta consulta serve para podermos tirar diretamente a carteira G no Canadá. Depois falarei melhor sobre isso. Nota importante: O consulado só recebe este tipo de requisição até às 13:00h. Como verificamos isso às 12:30h, então resolvemos que segunda seria mais um dia para ficarmos descansando de nossas aventuras.

Ligamos ao centro de apoio aos imigrantes para agendar a entrevista para avaliação do nível de inglês que estamos para iniciarmos o curso. Fomos avisados que não é necessário agendar a entrevista, bastaria passar no local para realizar o teste.

Assistimos a mais um filme, desta vez confortáveis com a volta do calor e dormimos bem cedo.

Quinto dia (Domingo)

Chegamos em casa 23:45 de sábado e o domingo começou gelado. Na porta de nossa casa havia um bilhete da família Upstairs Singh dizendo que estávamos sem gás, por isso a noite seria fria. Parece que o frio chegou para eles também. A noite foi bem difícil, acreditamos que a temperatura no quarto devia estar uns 5 graus positivos. Dormimos com nossos thermal wears (vulgo minhocão), todos os cobertores da casa e ainda tivemos dificuldade de dormir. A Dalila, que normalmente gosta de ficar perambulando durante a noite, não saiu debaixo das cobertas.

Às 9:00h da manhã a companhia de gás bateu em nossa porta para mexer em algo. Conversei com o técnico e ele disse que o sistema não tinha passado por uma limpeza e nem pela manutenção anual. BTW, havia dois anos que não faziam isso. A dona da casa estava conosco muito sem graça e disse que faria isso o mais rápido possível. Aliás, esse técnico já limpou o sistema e avisou que outra pessoa iria passar ainda no domingo para realizar a manutenção necessária e que assim que isso ocorresse, tudo voltaria ao normal.

Havíamos planejado a realização do nosso primeiro almoço caseiro. Porém, diante deste imprevisto resolvemos sair para almoçar (Subway. Agora já sabemos o script). O resto da tarde resolvemos arrumar a casa e organizar nossa agenda para a semana que prometia ser bem atribulada.

Detalhe importante: o técnico da Cia de Gás responsável pela manutenção deixou a gente no vácuo e passamos mais uma noite no frio. Assim, não precisaremos mais visitar o hotel de gelo em Montreal, pois já vimos que não tem graça nenhuma.

Durante à noite, assistimos um filme num frio sinistro sem lareeeira, sem lareeeira, bicho. Eu prefiro ter um filho viado que um filho que trabalha na Cia de Gás Canadense. AHH, Eu fico Puto! (Quem não entendeu a piada, por favor assista este vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=V7eR6wtjcxA.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Quarto dia - Sábado (Fun Day)

Fomos convidados pelo Alexandre Azevedo para acompanhar sua família e amigos a uma estação de esqui perto de Toronto. Segundo ele, o lugar é muito agradável para crianças e a previsão da meteorologia para o sábado prometia um grande dia para se divertir. Nota interessante: a meteorologia aqui é bem precisa, se diz que vai chover, chove, se diz que vai chover pouco, chove pouco. Por que será que ficamos assustados com isso?

Porém, a nossa semana foi muito corrida, como puderam perceber nos posts anteriores, e acordamos no sábado com aquela vontade de passar o dia todo mofando. O problema é que estava frio demais dentro de casa e não sabíamos porque. Achamos que talvez tivesse havido alguma regulagem na calefação que não sabíamos onde era, provavelmente isto deve estar interligado com a parte de cima da casa. Questionamos o Singh e ele disse que lá em cima estava tudo tranquilo. Tentamos falar com a dona da casa e não conseguimos, então deixamos para depois.

Nossa sorte é que tivemos coragem de colocar a cara para fora de casa para ver como estava o tempo e não pudemos resistir ao sol maravilhoso que deixava a visão da neve ainda mais bonita. O dia estava radiante e nos recusamos a ficar em casa. Planejamos que se ocorresse algum imprevisto com o passeio de nossos amigos, então iriámos à CN Tower e a Metropolitan Library. Não tardou e nossos amigos nos ligaram confirmando o passeio. Excelente!

Fizemos uma cabaninha para a Dalila, pois realmente estava frio dentro de casa e fomos embora. Metrô na cabeça e 30 minutos depois havíamos passado por todas as estações da linha verde. Agora podemos dizer que somos praticamente nativos agora. Aprendemos mais uma novidade: algumas estações de metrô tem uma área específica para que as pessoas aguardem as outras (Passengers Pick-up). Neste local encontramos o Alexandre que nos deu a notícia que o passeio da estação de esqui tinha furado, mas teríamos outras atividades a fazer.

Fomos a Mississauga e conhecemos alguns bons locais para se morar. A cidadezinha ao lado de Toronto é um paraíso para aqueles que têm filhos, pois oferece as facilidades da “cidade grande” com a tranquilidade do “interior”. Durante o passeio paramos para descer de trenó com o Pedrinho, filho do Alexandre. Esse figurinha é ligado em 330V e só descansou quando finalmente o Alexandre estacionou no local da atividade. A “viagem” até o local (cerca de 30 minutos) foi recheada de excelentes dicas para nossa adaptação.

Para vocês terem uma idéia da beleza do lugar, a foto ilustrada na apresentação do blog foi tirada pela Luciana, esposa do Alexandre. A visão desse mirante é de tirar o fôlego, o Lago Ontário ao fundo realmente serve de inspiração. Para quem tem cachorros, o lugar oferece um espaço “leash free” para a felicidade dos animais. A temperatura estava por volta de 1oC e as pessoas também estavam muito felizes. Tinha gente até com a capota do carro conversível abaixada, parecia que estava maior calorão.

Durante este passeio pedimos permissão para utilizar o trenó do Pedrinho e nos aventuramos em nossa primeira experiência na neve. Enquanto estávamos nos preparando para descer, a nossa “amiga” Luciana deu um “empurrãozinho” para nos “ajudar”. O resultado vocês poderão ver no vídeo que colocaremos aqui depois ou então podem entrar direto no link do Youtube (http://www.youtube.com/watch?v=y69SVmJ4RHw). Cuidado! As cenas são fortes, abaixem o volume de seus computadores. Depois não digam que não avisei! Outra coisa, percebam as duas risadas maquiavélicas ao fundo da gravação. Estamos começando a achar que isso tudo foi armado.

Depois que conseguimos subir, recebemos uma explicação sobre o ocorrido. A Luciana disse que era um passeio com emoção. Bem, nós moramos em Natal, onde esta opção de passeio nasceu (com ou sem emoção) e pelo que nos lembramos esta escolha deve ser NOSSA! J

Depois da diversão fomos conhecer o Square One, um grande Mall no centro de Mississauga. A esta altura estávamos famintos e nos dirigimos diretamente para o Tim Hortons. Nota: Caberia mais entradas para o nossa dicionário para entender o que a Singh falou, mas não tive capacidade nem de captar os fonemas para tentar inserir este script. Este desafio ficará para outra oportunidade. BTW, a refeição é muito gostosa.

A partir daí partimos para encontrar os minhocões (vulgo Thermal Wear). No caminho para o Wal Mart passamos por uma loja de animais que vende de tudo, cobra, escorpião, aranhas e até grilos para dar de comida para esses outros “pets”. Eu quis comprar uma aranha para a Nanade, mas ela não aceitou. Sugeri então que poderíamos dar a Dalila de comida para uma daquelas cobras, mas a idéia também não passou pelo crivo materno. Eu tentei!

Nota importante: os shoppings fecham às 18:00h no sábado, independente de ter gente dentro ou não, as pessoas são praticamente expulsas das lojas quando chega perto desse horário. Isso também vale para a praça de alimentação. Isto é uma coisa que precisaremos nos acostumar.

Saímos do Square One e fomos à casa de mais uma família brasileira em terras geladas. Tivemos a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas como o Edward, Jaqueline e filhos, Flávio e Marcia, além do Mencio Vidal que chegou depois. Repetindo o que já falamos em post anterior, temos sorte de atrair apenas pessoas de boa índole e com as mesmas características que temos. O primeiro encontro parecia mais um reencontro, como se já nos conhecêssemos há tempos. Além de tudo isso, ainda experimentamos o mingau de banana da Jack sob supervisão do Edward. Nota: 10.

Muitas dicas, muitas idéias e a mensagem principal da noite foi que devemos focar na obtenção da carteira de motorista. Este processo é o único terceirizado, mas contraditoriamente não funciona tão bem quanto os outros. Assim, já me ajudou a definir uma prioridade neste momento.

Volta para casa, mais uma certeza que estamos no lugar certo. O Alexandre nos deixou na estação de metrô do outro lado da cidade por volta das 23:00h e em momento algum durante a viagem houve qualquer sentimento de medo, ameaça ou insegurança. Chegamos em casa às 23:45h à procura de nossa cama quentinha, mas infelizmente não seria desta vez...

terça-feira, 18 de março de 2008

Terceiro Dia

Novo dia, nova oportunidade para descobertas. Lendo os textos anteriores percebi que esta palavra foi utilizada à exaustão, mas não há como achar outra. Estamos num momento onde a melhor coisa que temos a fazer é realizar descobertas. Assim, acordamos para mais uma aventura.

Depois das dicas da Iolanda, que fez questão de formalizá-las através de e-mail, resolvemos ir atrás de um supermercado para podermos começar a montar nossa despensa. Frio de matar, não precisamos mais comentar isso, e pé na estrada. Percebemos que a vizinhança contém duas ruas principais (Danforth and Pape) que mantêm praticamente apenas comércio. Durante nossa caminhada achamos o Food Basics, um supermercado bem razoável que serve para aquelas comprinhas básicas, semanais, etc. Nota interessante: Durante o pagamento da conta, a caixa nos perguntou se gostaríamos de sacolas plásticas para carregar as compras. Na nossa cabeça veio a resposta: claro, qual a dúvida? Então ela perguntou: “quantas”? Ué, que tipo de pergunta é essa? Sei lá, umas 5. Aí então entendemos o problema. As sacolas são cobradas (0.25 centavos). Pelo que levantamos, isso serve para desencorajar sua utilização devido à questões ecológicas (bla bla bla). Assim, compramos umas sacolas mais resistentes (CAN$1.00) para não ter que pagar pelas usuais. Todo supermercado oferece essas outras sacolas. A partir de agora, sempre que saimos às compras não podemos esquecê-las, caso contrário será mais custo desnecessário. Uma curiosidade é que as velhinhas usam um carrinho/bengala/cadeira/andador que é um espetáculo. Quando a velha cansa, senta, quando descansa, empurra, quando faz compra, não carrega peso, só esperamos que não enfrentem nenhuma ladeira pela frente. Ainda não vimos se são providos de freios.

Voltamos para casa com alguns mantimentos e depois resolvemos visitar o Dufferin Mall, também por indicação. Foi então que descobrimos o conceito do “Transfer”. Se você está indo na direção Norte/Sul, precisa ir para leste/oeste e o ônibus em questão não fizer esta rota, então você pode saltar e pegar a outra condução sem custo. Isso vale também para ônibus/metrô. Caramba, por que não disseram isso antes? Os 15 minutos de caminhada no frio até o metrô agora se tornaram um minuto até o ponto de ônibus, dois minutos dentro do ônibus quentinho e pronto! Estamos no metrô, também quentinho.

Chegamos à estação Dufferin e nos encaminhamos ao Mall. Wal Mart, No Frills , Payless Shoes e outras marcas interessantes compõem este aglomerado de lojas. A Nanade ficou louca pela Payless Shoes. “Mini flashback - ainda não tive a oportunidade de contar que a “pessoa” que a Nanade mais ficou deprimida ao se despedir foi o Cartão da Renner. Foram 2 dias de depressão profunda e o fim momentâneo do brilho em seus olhos”. Depois de passar pela Payless Shoes eu pude ver novamente aqueles lindos olhos brilhantes que já me conquistaram há vários anos. Estou recebendo de volta minha mulherzinha. God save my wallet! Outra coisa que encheu seus olhos foi a Pipoca com Double Caramel. Ainda estamos em negociação para ambas as aquisições.

Nota interessante: compramos o cartão de ligação internacional “Amigo Latino” que permite com CAN$5.00 falar por 3 horas com o Brasil. As pessoas já comentaram que o melhor cartão é o SIFA, mas ainda não o encontramos. Apanhamos para falar do orelhão e pagamos a sua taxa de uso. Depois percebemos que é mais fácil utilizar o cartão através do celular. As instruções vêm no cartão e você paga apenas uma ligação local para Toronto.

Depois de ligarmos para casa, encontramos um Service Canada (http://www.servicecanada.gc.ca/en/common/notices.shtml). Neste local é que fazemos nosso Social Insurance Nuber (SIN), pegamos informação sobre aulas de inglês, etc. Resumindo, este é o ponto de apoio para o Imigrante. Tentamos fazer o nosso SIN neste local, mas fomos mal atendidos. Nós haviamos levado apenas o nosso passaporte, mas precisávamos do “Confirmation of Permanent Resident”. A senhora que nos atendeu foi muito rude, não preisava do show particular. Como nossa cabeça indica que estamos de férias, então não nos abalamos e pedimos mais informação para uma Mohamehd, muito educada por sinal, que nos mostrou que havia outro Service Canada bem perto de onde estamos hospedados. Assim, resolvemos que faríamos o nosso SIN ao voltarmos para casa. Tempo livre, hora de diversão (vulgo descobertas).

Entramos no No Frills para comprar arroz, feijão, temperos, água, etc. Vocês devem estar perguntando o por quê de estarmos comprando água. Afinal de contas, basta abrir a torneira e encher o copo, certo? Errado! Nós ainda não tivemos coragem para fazer isso, a água sai esbranquiçada, com cheiro, mas ainda não sabemos o gosto. Até a Dalilinha demorou para experimentar a “nova” bebida. Nota Importante: O No Frills é muito bom. A variedade é muito grande e o preço é bem atraente. Fica até difícil escolher os produtos, pois tem Beans flavor Bacon, Beans flavor Chilli, Beans flavor Curry, Beans flavor whatever (algo escrito em grego, árabe, etc). O Arroz é a mesma coisa. No dia que acharmos Rice flavor Piqui saberemos que o mundo realmente está globalizado. Até a água que compramos é assim. Já achamos a água sabor ferrugem, água sabor barro e água sabor magnésio. Toda vez que vamos ao supermercado tentamos achar o anúncio de Water flavor Water, mas ainda não conseguimos. Alguém poderia nos ajudar com este assunto?

Depois de muitas andanças resolvemos voltar com tempo para irmos ao Service Canadá próximo à nossa casa. Fomos super bem recebidos por uma grega e em menos de 20 minutos estávamos com nosso SIN em mãos. Agora oficilamente podemos trabalhar neste país. O Service Canadá merece um destaque: conseguimos nosso SIN, além de informações sobre o PR Card, aulas de inglês e empregos. As pessoas, em sua maioria, estão realmente querendo ajudar e nos fazem sentir bem a vontade. Parabéns pela iniciativa.

Última nota importante do dia pode salvar a vida de muitas pessoas. Eu tenho um tênis que seu apelido é Cheetos (Ricardo, he is back!). Vocês imaginam o porquê, certo? O problema é que ao andar na neve o seu pé molha e na maioria das casas é necessário tirar os sapatos antes de entrar. Já viram que isso não vai dar certo, né? Eu precisei colocar o Cheetos em modo hibernação até o verão chegar, pois ele se comporta muito bem nesta época, aliás há tempos ele tinha se livrado deste péssimo hábito, mas passando o dia com os pés molhados não tem jeito. Aqueles que por acaso têm sapatos que não sabem conviver em sociedade (este é o caso do Cheetos) fiquem ligados, pois eles podem te trair ao chegarem no Canadá.

O brilho nos olhos da Nanade foram nosso maior presente de hoje, nossa alegria está de volta e a força que as pessoas andam passando pelos comentários no blog estão realmente ajudando nossa caminhada. Muito obrigado pessoal.

Cenas do próximo capítulo: Passeio em Mississauga e descoberta de novos amigos.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Segundo Dia

Nada como um dia depois do outro com uma noite no meio. A conversa da noite anterior com a dona da casa e depois nossa conversa familiar fez com que nosso ânimo se revigorasse. Acordamos com novo espírito e já de manhã nos arrumamos para voltar ao centro da cidade. Desta vez o objetivo era comprar roupas de frio adequadas e um notebook.

Antes disso, durante os carinhos matinais sagrados em nossa pequena, descobrimos uma curiosidade. Os pelos da Dalila não estão mais caindo. No Brasil, a cada semana conseguíamos construir 3 gatos com os pelos coletados durante as faxinas. A natureza é sábia e espero que este fenômeno acometa a minha pessoa também.

Caminho de sempre, 15 minutos andando, frio de matar, descobrimos porque as pessoas andam tão sérias por aqui: colocar 0,5cm de dente para fora é certeza de dor intensa. Deve ser por isso que dentista é tão bem pago nesta terra. Outra decoberta fantástica, o cachecol pode servir de máscara e o calor da sua respiração não deixa o nariz congelar. Isso é que é tecnologia!


Chegamos ao centro, descemos direto no Eaton Centre. Pesquisamos roupas, luvas e uma malandragem para esquentar a orelha que até agora não sabemos o nome. Além de proteger a orelha, este protetor não desarruma os cabelos. Ainda descobriremos....

Hora do almoço, queríamos algo que não fosse sanduíche. As alternativas eram péssimas e nos restou um chinês e um Grego (Jimmy The Greek). Comida Chinesa já conhecíamos no Brasil, então resolvemos nos aventurar no Mediterrâneo. Escolhemos um churrasquinho de frango, arroz, batata e salada. Hummmmm, lembrei da minha infância, quase chorei. O arroz tinha gosto de massinha de modelar e a alface era um durex. O frango não tinha sal e a única coisa que sobrou foi a batata, que não temos do que reclamar.

Há esta altura começamos a perceber que o número de imigrantes é muito grande, já não nos sentimos mais peixes fora d’água. É impressionante! Agora sabemos que é só chegar nos lugares e, dependendo da fisionomia, começar a frase com Mr. Mohamehd, Sing ou Wu (Wi, We ou qualquer barulho vocal) que será certeza acertarmos os nomes.

Final de estação é uma beleza, compramos casacos bons por 30, 40 e 50 dólares. Nossos dias de frio estavam terminando (vocês ainda ouvirão sobre isso). Depois disso fomos ao Future Shop na Bloor, escolhemos nosso Notebook Branco, não preciso dizer quem escolheu, e quando nos preparávamos para ir embora não pude deixar de fazer a pergunta ao Mohamehd: “Estamos indo para casa de metrô, será que há algum problema em levar esta caixa conosco? Não seria melhor colocarmos o Notebook dentro da mochila?”. Resposta: “Don’t Vorry! You are safe Verever you go”

Caminho de casa foi tranquilo. A noite tivemos um jantar preparado pela pessoa que nos indicou o local onde nos hospedamos. Uma senhora Francesa (Danielle) muito simpática e atenciosa fez questão de trazer uma amiga brasileira para nos receber. A Iolanda fez muito bem as honras da casa. Ela nos deu diversas dicas sobre o “minhocão” (descorbirmos o termo “Thermal Wear” depois), panos para tirar estática da roupa (a Nanade agradece enormemente, pois vive numa cadeira elétrica), onde comprar casacos baratos e o mais importante, onde achar comida boa. Para comer bem, tem que ser em casa mesmo. Passou dicas de como comprar feijão em lata e temperar da mesma forma que fazemos no Brasil, arroz sem flavor (explicarei isso melhor no terceiro dia), torradeira para comer uns waffles e torradas, etc. Resumindo, a nossa casa somos nós que fazemos. O material está disponível, basta sabermos procurar. Dica: ouvimos que aqui não teria feijão, mas isso não é verdade. Existe uma enorme variedade que pode ser encontrada em qualquer lugar.

Acabamos não escapando da comida chinesa do dia. Apesar disso, o jantar foi super interessante, conhecemos outros Brasileiros e um espanhol que não lembro o nome, pois só o chamávamos de Manoelito. Trocamos experiências e a realidade é a mesma para todos. O começo é uma barreira, mas o passar do tempo demonstra que fizemos a escolha correta. Todos estão muito bem de vida e realizados.

Esta última parte foi o desfecho ideal para termos certeza que a primeira impressão ruim foi apenas um susto. O próprio centro da cidade já tinha uma cor diferente para nós. Por exemplo, ao passarmos ao lado do City Hall, chegamos à conclusão que devem jogar água sanitária na neve sobre o gramado do lugar, pois é impecavelmente branca. Uma visão linda!

Com esta lembrança, finalizamos o nosso segundo dia. O pulmão cheio de ar para continuar nossa caminhada.

domingo, 16 de março de 2008

Primeiro Dia

O primeiro desafio era chegar à casa que havíamos alugado. Tínhamos apenas o telefone e o endereço da pessoa. Pegamos um taxi grande e fomos embora, tentamos ligar a primeira vez para a casa e ninguém atendeu. Tentamos para o celular e ele estava fora de área. Bateu um tensão, mas sabíamos que daria certo. Utilizamos o celular do taxista. Pelo que nos falaram, isso é comum por aqui.
O horário era muito ruim pois as pessoas estavam indo para o trabalho. Assim chegamos ao Canadá da mesma forma que saímos do Brasil, num engarrafamento. Conversei com o motorista e ele disse que o engarrafamento ali estava bem ruim, mas não é daqueles da 23 de maio, o carro anda o tempo inteiro e não pára muito. Ainda não sei se esta é a realidade, mas foi o que o motorista de taxi disse.

Durante o caminho tentamos ligar mais algumas vezes e não conseguíamos contato. Isso foi nos deixando desesperados, pois o tempo estava ruim (-5oC) e nossas roupas não eram apropriadas. Resultado, tentamos ligar umas 5 vezes sem sucesso e sempre deixamos recados na secretária da casa da pessoa. O celular estava com problema, mas só saberíamos mais tarde. Ao chegar na porta da casa, batemos e ligamos uma ultima vez, pois já não tinhamos o que fazer. O taxista disse que continuaria ligando, mas que não podia ficar esperando. Bela recepção, ficaríamos parados do lado de fora, num frio sinistro e sem a menor noção do que fazer, pois tinhamos um monte, literalmente falando, de malas, a gatinha, sem celular, sem contato..... quando isso tudo estava tomando a nossa cabeça, a mulher liga de volta para o celular do motorista. Ela estava na rua de trás e o celular havia dado problema. Em 5 minutos ela chegou ao local e nos apresentou nossa moradia temporária.

Bom, esse foi o primeiro sinal que somos imigrantes no começo de vida. O basement da casa nos assustou muito. Por mais otimistas que estivéssemos, a visão nos deu um golpe duro. Metemos todas as nossas malas para dentro de “casa”, avaliamos se o local era apropriado para a Dalila, arrumamos seu banheirinho e comida e resolvemos pegar o metrô para downtown. Quem sabe assim, nos sentiríamos no primeiro mundo. Segundo grande desafio, andar pelas ruas com temperatura negativa. A Nanade estava com casacos comprados em Campos do Jordão, coitada! Aqueles casacos só servem para fazer volume na mala, esquentar que é bom... O metrô fica a 15 minutos de caminhada de onde estamos e rapidamente (mesmo!) chegamos à estação. O metrô é mais feio e sujo que o de São Paulo e Rio de Janeiro, mas a cobertura das linhas é muito boa. Você consegue ir para qualquer parte de Toronto utilizando o sistema de transporte (metrô, ônibus, trem). A primeira coisa que fizemos foi nos dirigir para a Union Station, o centrão de Toronto.

Quando chegamos ao centro, descemos num local onde estão sendo realizadas diversas obras. Assim, o lugar está feio, com barulho intenso e um pessoal mal encarado. A primeira impressão também não foi boa, nestes momentos sempre vem à cabeça aquela velha sentença: o que diabos eu vim fazer aqui??!! Não achávamos o Path, nos sentíamos fora de nossa realidade, achando que todos sabiam que éramos imigrantes de primeira viagem. Após tantos sustos, resolvemos comprar um mapa para nos orientar. Neste momento as coisas começaram a mudar. Achamos o path, aliás vale uma ressalva positiva, pois o lugar é muito interessante, e logo uma canadense muito simpática viu que estávamos perdidos e nos guiou até o banco, onde abrimos nossa conta. Fomos muito bem recebidos e conseguimos nos “livrar” de todos os nossos Travellers Check, não antes de assinar mais de 500 folhas, haja braço!

Há esta altura estávamos famintos e fomos guiados ao Eaton Centre. Descorbimos nosso grande desafio até o momento... comer bem! Impressionante como as pessoas aqui comem alimentos gordurosos, sem gosto e apimentados. Tem gente que almoça um “copo” de batata frita no NY Fries. Aquilo pode até ser bom, mas almoçar isso... Fomos ao velho e conhecido Subway. DICA: pedir comida é uma das coisas mais difíceis que podem enfrentar. Vou fazer um pequeno dicionário para auxiliar os novos imigrantes (como nós):

· “Chiquenobife”: Usualmente utilizada em aviões é uma pergunta realizada pelos comissários cujo significado é “Chicken or Beef”.
· “He togo”: Isso não significa que um Koreano ou indiano esteja te mandando embora. Eles apenas querem saber se você vai comer “Here or To go” (order)
· “SuperSalad”: Ao ouvir esta “oferta” como entrada no restaurante, não aceitem achando que é uma salada gigante. A pergunta do garçon significa uma escolha entre “Soup or Salad”.
· “Wanitosti”: É uma simples pergunta no Subway se você quer que o sanduiche seja “Toasted”

O segredo é conhecer o script de cada loja, pois acredito que é impossível entender o que eles falam, já vi até Canadense pedindo para repetirem as perguntas.

Após o almoço fomos comprar celulares para conseguir nossa comunicação de volta e pegamos o metrô para casa.
A primeira noite não foi o que podemos chamar de “uma noite no paraíso”. Toda a carga emocional das ocorrências do dia recaíram sobre nossos ombros e realizamos que estamos no início de um caminho que não é fácil. Por esta razão teremos muito orgulho ao conquistarmos os nossos objetivos.